Centro velho

Detenho-me numa esquina do centro velho.
Observo pessoas, fisionomias…
Rostos graves. Rostos aflitos.
Rostos com fáceis alegrias.
Rostos, vários: parte visível de almas
Exprimindo coisas que eu não sabia.

Penso nos antigos que aqui andaram
Quando este lugar não era velho.
Quando era apenas centro.
Quando era apenas lugar.
Centenas de anos atrás…

Por cá passaram outros rostos aflitos.
Rostos alegres. Rostos graves.
Crianças brincaram em torno,
como se tivessem a eternidade em si.
E tinham: eternidade não percebida
envolvida em riso e brincadeira.

Mil tribulações trazem os homens
Que passam apressados no centro velho.
Outros riem, só riem: têm nada a perder.
Crianças de hoje como as de outrora, felizes,
passeiam contentes na velha calçada
Gastando o viço que merecem ter.

Séculos foram-se e o centro ficou:
Milhões de homens aqui pisaram.
Milhões de crianças aqui brincaram.
Faces e dramas se repetiram:
As almas humanas nunca diferiram.

Que curioso esse lugar antigo…
Quer por ele passe carranca, quer riso,
Ele não passa duma brincadeira
Simples pedaço de existência humana.

Quem sabe amanhã, alguém veja assim
E preste atenção ao que noto agora.
Quem sabe amanhã, quando em silêncio,
longe desse centro, nem mais der por mim.

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