ROMANCISTAS não são apenas narradores ou contadores de histórias. São também artistas da língua que penetram por entre as “malhas” da vida e da realidade, com sensibilidade e argúcia, e internalizam em si a verdade das coisas, sem sentenciar, pontificar ou julgar. Sutilmente.
Ser romancista é a plenitude da literatura. Afinal, onde mais, a não ser no romance, se pode descrever múltiplas faces da existência, faces por vezes caleidoscópicas reunidas numa mesma personalidade, a não ser neste gênero literário? A filosofia e a poesia não são capazes de tal, nem se propõem a tal.
Romances dão “material” à filosofia. São nobre arte, e os romancistas, artífices habilidosos e capazes.
Não vejo com bons olhos quem leia de tudo, exceto romances. Ou mesmo faça leituras protocolares do gênero somente para fins de “repertório”. Parece-me sinal de imaturidade intelectual, não apenas questão de gosto.
Consumir livros de “afirmação” com teses rígidas e prontas ou textos “digeridos” do cotidiano tal como crônicas e ensaios, podem e têm lá seu valor. Mas somente o romance constrói e amplia a visão das coisas. Não vende certezas, pelo contrário; por vezes as destrói e as confunde, despertando mil perspectivas ao longo do tempo. (Claro que me refiro ao melhor produto do gênero).
Romances são as leituras primordiais de quem sabe que nada sabe. E são justamente estes os que mais sabem, paradoxalmente.