A Curadoria Particular: um breve manifesto

Um apelo para que o universo digital das nuvens, das redes sociais e dos streamings não apaguem nossas memórias, nosso acervo cultural pessoal e nossa própria história de vida

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Com sorte, algumas pessoas puderam nascer num lar onde foram apresentadas a bons filmes, boas músicas e boas leituras. Talvez freqüentaram teatros, museus, bibliotecas e centros culturais, desde cedo; infelizmente, porém, a maioria dos brasileiros não teve tal oportunidade e a oferta cultural mais à mão que lhes apareceu foi justamente a pior, a mais deletéria: horas diárias desperdiçadas em frente à televisão ou submetidas a audição de músicas lastimáveis, sem qualquer apuro estético. Para piorar, as redes sociais estão aí, bem ao alcance dos dedos numa telinha de smart­phone, e mesmo a tecnologia moderna não oferece uma experiência lá muito diferente de acesso à cultura pop de qualidade. Pelo contrário.

Particularmente, pertenci a esse último grupo de filisteus involuntários, sem acesso ao básico de uma boa cultura. Pelos idos dos anos 80, período de minha infância, sentar-se em frente à tela da tevê já não era uma das experiências mais edificantes: vigoravam os Xous da Xuxa e programas assemelhados nos demais canais. Nada que ajudasse muito a inteligência, para dizer de um modo generoso. Nem sei explicar como hoje, homem feito, pude escapar do processo de estupidificação midiática dos meus primeiros anos de idade. Ou talvez saiba.

Apesar de ter sido exposto a todo aquele besteirol — e cada época tem a sua própria cota de besteirol — lembro-me de que fui capturado, de modo até hoje misterioso para mim, pela pouca beleza artística circundante a que tive acesso (passo as considerações mais rigorosas a respeito do tema beleza artística. Apeguei-me ao que me era possível na época).

Por exemplo, eu apreciava as belas melodias que vez ou outra tocavam no rádio. Aquele foi o auge das rádios FM, precursoras dos streamings de música de hoje em dia. Na programação, locutores anunciavam “as melhores da Billboard” e eu nem mesmo fazia a mais remota idéia do que fosse Billboard, uma revista americana de jornalismo musical e cultural.

Então, mesmo bombardeado por diversos hits-chiclete das rádios, consegui driblá-las e depreender aqui e ali as melhores músicas, principalmente as que tocavam tarde da noite, fora do horário comercial, e delas apreciava as mais bonitas: por este termo vago, bonitas, refiro-me àquelas canções que traziam belas harmonias, arranjos envolventes, melodias emocionantes que davam prazer ao escutá-las. Aquelas belas canções proporcionavam-me uma “experiência”, para usar uma expressão do marketing: boa, deleitosa e diferente da vulgaridade das canções populares marteladas de hora em hora.

E aquelas boas experiências ficaram na memória. Assim, de canção em canção, de banda em banda, fui montando um repertório particular na mente: a cada nova música de que gostava, procurava saber o título; e a cada título memorizado, esperava que tocasse novamente para gravar nas fitas BASF que meu pai comprava. Quem sabe um dia adquirisse aqueles discos originais, tão logo trabalhasse e tivesse dinheiro para tanto. Naqueles dias, não tinha como.

Mas meu contato cultural da infância não se restringiu às músicas. Imaginativo, também fui um leitor voraz de quadrinhos Disney — sempre os preferi aos da Turma da Mônica –, quando exatamente aos dez anos de idade fui apresentado ao universo dos super-heróis Marvel e DC. Pude conhecer aquele panteão de heróis por um colega da escola que me introduziu ao universo das comics e me emprestou alguns gibis.

Logo fui capturado por tudo que li: Demolidor de Frank Miller, os X-Men de John Romita Jr, o Justiceiro de Mike Zeck, pela Marvel; na DC, Batman (a fase de Neal Adams foi minha preferida), Superman de John Byrne e os Novos Titãs de George Pérez, magnífico. Decorava o nome dos desenhistas, dos roteiristas, dos arte-finalistas. Lembro até do cheiro do papel (sim, eu gostava até do cheiro do papel). Não demorou muito e logo “peguei” as cronologias das narrativas, soube quem era quem. Tornei-me um especialista-mirim das HQs e já entabulava discussões com meus colegas de classe, apontava equívocos a respeito de episódios, etc. Levava aquilo bem a sério.

Àquela altura, obtive de minha mãe autorização para ir sozinho à padaria e à feira para comer pastel com caldo de cana, uma conquista. Um dia, no fim da feira, junto à banca do pastel e à Kombi do caldo de cana, descobri um manancial ao ar livre: uma banquinha, onde um senhor calvo depositava volumes nuns engradados que ele trazia numa Brasilia marrom. De longe, avistei várias preciosidades e meus olhos brilharam.

Mas, como fazer? Tinha só dez anos e nenhum dinheiro. Astuto, ofereci-me para acompanhar minha mãe e para ajudá-la a carregar as sacolas. Depois, pedia a ela o troco da feira e guardava cada trocado até obter o suficiente para comprar aqueles gibis que faziam meus olhos brilharem. Comprava-os velhinhos mesmo, já que os exemplares novos eram bem mais caros. O dono da banquinha passou a me reconhecer e já fazia troça da minha garimpagem, dizendo “hoje vou ficar te devendo o Homem-Aranha número 1”.

De minha parte, nem ligava. Afinal, foi mesmo escarafunchando que pude achar várias preciosidades ali, e via de regra elas sempre estavam no final das pilhas: as graphic novels dos X-Men de Brent Anderson e o Demolidor, de Bill Sienkewicz, impecáveis, foram obtidas assim. Aos poucos, montei um pequeno mas seleto acervo, pelo qual nutria verdadeiro ciúme: não contava a ninguém minhas preciosas aquisições, além de protegê-las do alcance de minha irmãzinha caçula, a qual tinha como diversão principal rasgar uns papeizinhos.

Sem perceber, tanto as músicas que eu gravava nas fitas cassete e aquelas meras revistinhas representaram um primeiro repertório cultural pessoal que me estimulava, e ambos os gostos — o da música e o da leitura — permaneceram comigo vida afora. Digo que se hoje leio Guerra e Paz, foi porque um dia li Crise nas Infinitas Terras.

Mas não parei por aí. Aos 14 anos, depois de arranjar meu primeiro emprego, dei o passo mais ousado da minha vida até então: adquirir um aparelho videocassete à prestação nas lojas Arapuã.

Graças a esse empreendimento, adquiri um dever sagrado: comparecer todo final de semana à videolocadora. Passava no mínimo uma hora ali, selecionando meu próprio festival de cinema: lançamentos, clássicos obrigatórios, títulos interessantes, cults pouco procurados. Empilhava as fitas no balcão e levava sacolinhas repletas de filmes, pelo que o atendente, mal-humorado, me orientava a devolver as fitas devidamente rebobinadas. Eu sempre lhe atendia o pedido e em pouco tempo passei a ser respeitado por ele. Ganhei um título informal de cliente VIP e ele passou a fazer-me sugestões e a reservar lançamentos antes dos demais fregueses.

Ao assistir àquelas fitas, observava o nome do diretor, se o filme ganhou ou se foi indicado ao Oscar (passei a assistir às cerimônias do Oscar, também). Se a trilha sonora me chamasse a atenção, aguardava os créditos até aparecer o compositor, as músicas e depois procurava o disco no centro da cidade, onde descobri uma loja especializada em discos de trilhas sonoras. Foi assim que conheci nomes como Ennio Morricone, John Barry, Basil Poledouris, Trevor Jones, Vangelis, entre outros.

A essa altura, é justo que alguém se pergunte o porquê desse meu relato pessoal, quem sabe tão trivial, admito. Bem, tudo foi apenas um preâmbulo para entrar na questão central a seguir.

Tudo aquilo me aconteceu pouco antes da estréia da internet comercial, em meados dos anos 90. Com o advento da internet, vi aquele material migrar pouco a pouco para os websites e a ser espalhados via hyperlinks — termos obsoletos hoje, quiçá desconhecidos para muitos. Aquela grande novidade chamada internet serviu como um meio formidável para estender o elemento físico (LPs, CDs, fitas VHS, livros e revistas, etc.) e disponibilizá-los eletronicamente para ser acessado a qualquer tempo e por qualquer um. Mas não parava aí: muitos sites e blogs surgiam a cada dia para comentar aquele conteúdo todo, fosse algo a respeito de bandas preferidas ou de um autor literário de que gostávamos, curiosidades de bastidores dos filmes, além de detalhes pitorescos das produções, etc.

Como nunca antes, a experiência cultural ampliou-se de maneira fantástica via internet, possibilitando uma inédita cultura do compartilhamento, do sharing, em nível mundial. Era comum lermos comentários aqui e ali do tipo “já nem assisto mais à televisão, estou sempre por aqui neste site, neste blog”, etc.

O tempo passou. E na esteira desse processo surgiram alguns efeitos colaterais. Infelizmente, a internet despertou um vício nos usuários (brasileiros, principalmente): a mania do grátis que banalizou e mesmo inviabilizou aos poucos a criação artística. O vício do “pegue e use” sem despender qualquer centavo, fez surgir outra demanda, a da pirataria, esta a pura e simples apropriação indevida do conteúdo artístico. Roubo, mesmo.


Não se investiu mais em artistas de carreira para formar um bom casting. Pelo contrário: apostou-se cada vez mais em produções de consumo instantâneo, de cunho erótico ou de besteirol o pior possível, para “bombar” em programas apelativos da televisão


Pegue-se o caso das grandes gravadoras. Por mais pecados que tivessem, foram elas as responsáveis por nos apresentar os grandes artistas e produzir as melhores canções. Mas por causa da pirataria, elas apelaram a produtos cada vez mais baratos e menos elaborados para vender rápido e manter o fluxo de caixa (ok, alguns diriam os lucros extraordinários).

Então, não se investiu mais em artistas de carreira para formar um bom casting (um catálogo respeitável de grandes nomes para promover-se a longo prazo), como nas décadas anteriores. Pelo contrário: apostou-se cada vez mais em produções de consumo instantâneo, de cunho erótico ou de besteirol o pior possível, para “bombar” em programas apelativos da televisão, numa operação de curtíssimo prazo: assim, cada verão tinha o seu hit detestável da vez, algo que não durava mais do que quatro ou cinco meses, mas aporrinhava uma eternidade.

Mas voltando ao ponto. Com a disseminação cada vez maior do conteúdo eletrônico, cresceu em paralelo toda uma geração de pessoas a qual, reputo eu, foi muito prejudicada em relação à minha. Não, não se trata aqui de nostalgia barata ou do batidíssimo conflito de gerações (“oh, no meu tempo é que era bom”, etc). Explico-me:

Minha geração percorreu uma série de inovações tecnológicas por que passou a cultura pop, e numa velocidade alucinante: da máquina de escrever pulamos aos PCs, do fax aos smartphones, do telefone sem fio ao wi-fi, das vitrolas aos iPods, das fitas VHS, DVDs e Blu Rays ao streaming de vídeo. Tudo muito maravilhoso, certo?

Nem tanto. Vejamos a presente geração: quando falamos nela, referimo-nos ao universo de pessoas que orbitam entre a chamada geração Y (ou millennial), atravessa a geração Z e chega à geração I (o “i” tomado de empréstimo de iPhone). Portanto, são esses os jovens de hoje. E por que falo dos jovens? Porque é a juventude a fase da vida que define — embora não para sempre — os gostos e referências culturais que provavelmente darão o tom ao longo de toda a vida.

Pois bem. O fato é que toda essa turma desfruta hoje de uma comodidade tecnológica inacreditável em relação ao passado e por um custo razoavelmente acessível: basta ter uma conexão de internet com wi-fi. Então, o que haveria de errado? O problema todo está na falta de tangibilidade, de matéria palpável e no desaparecimento — ou desestímulo — do desejo de cultivar alguma coisa a fim de formar um acervo cultural pessoal. Por isso toda aquela historinha do meu passado lá no início.

Dito de outro modo: não se dá mais importância às coisas, ao material físico para se ter, guardar e voltar a elas sempre que se quiser: filmes, músicas, livros. Tudo hoje converge à nuvem digital, e o pior, ela abriga centenas, milhares de opções de conteúdo os mais díspares. Pior? Sim, porque a quantidade inabarcável de opções de consumo nos leva, paradoxalmente, não a escolher um determinado filme entre mil ou uma música entre milhares: como nosso cérebro tende a acomodar-se ao que nos é familiar, tendemos à repetição, por um lado; e por outro, os algoritmos das plataformas nos prendem numa caverna platônica sem percebermos e então nossa mente se imobiliza.


O problema todo está na falta de tangibilidade, de matéria palpável e no desaparecimento — ou desestímulo — do desejo de cultivar alguma coisa a fim de formar um acervo cultural pessoal


Por isso, não obstante tenhamos nas plataformas digitais incontáveis possibilidades no atacado, consumimos aquela mesma meia-dúzia repetitiva de opções no varejo — via telas e telinhas — e somos aprisionados pelas camisas-de-força dos algoritmos. E não percebemos a armadilha.

Na prática, isso significa que se alguém ouve heavy metal num aplicativo, nunca terá acesso ao jazz ou ao R&B dos anos 60/70; se ouve o hit chiclete oferecido na propaganda do app, nunca conhecerá um belo estilo musical do passado. Se ouve Rihanna nunca tomará conhecimento do chorinho ou da música lírica por esses meios; e, se sempre ouvir músicas em inglês, nunca sequer sonhará que existam belas canções da mpb ou em espanhol (a produção atual não ajuda na tarefa, mas passo o tópico).

Eis aí uma enorme usina de incultura, convenhamos…

De modo que este texto surge como um apelo a algo que eu chamo de Curadoria Particular: o não se conformar à comodidade mórbida dos meios digitais, não apenas apertar miniaturas nas telas touchscreen e comer da ração imediata que os apps da vida trazem. Ao contrário: resistir a isso, buscando novamente pelos discos, pelos filmes em mídia física — DVDs, Blue Rays (especialmente os clássicos, ausentes na maioria dos streamings, repare) e ainda pelos livros no bom e velho papel da prensa de Gutenberg — que nunca fizeram feio, aliás.

É preciso ter em mente que o conteúdo das nuvens digitais não substitui o elemento físico a contento, apenas viciam-nos numa facilidade esterilizante ao fim e ao cabo. Ao ver um filme num Netflix ou assemelhados, não se lêem as críticas a respeito dele no jornal, mesmo que seja para discordar do crítico (o que já valeria muito, pois isso nos obrigaria a pensar e a tomar posição a respeito do que gostamos). Os streamings de vídeo não nos deixam sequer ler os créditos direito e não sabemos onde as locações do filme ocorreram nem a lista de músicas da trilha sonora: a disputar freneticamente nossa atenção, já nos atiram outra sugestão de filme, e mais outra e mais outra. Nem temos tempo de pensarmos naquele conteúdo inicial e metabolizarmos suas possíveis camadas de significado. Para azar da nossa inteligência.

Quanto à música, Spotifys e similares nos prendem à suas interfaces limitadas: não pegamos o disco, não examinamos a arte que a banda escolheu para ilustrar aquele trabalho e nem descobrimos por que o fez. Não sabemos quem produziu aquele álbum, por qual razão foi tão diferente do anterior. Não lemos mais os encartes, posto que não há encartes; não sabemos quem compôs cada música e como tal se deu, ou em quais circunstâncias. Perceba como este é um processo pior que a alienação pura e simples: trata-se da amputação de nossa memória afetiva, da imaginação, da inteligência e do deleite da contemplação artística em seu sentido pleno.

Isso sem falar dos e-books ou e-readers, os quais, embora facilitem a mobilidade e armazenem verdadeiras bibliotecas, a leitura por estes meios não possibilitam a mesma fixação do conteúdo no cérebro como os livros de papel o fazem. O texto eletrônico é mais visto do que lido — lido no sentido de apropriado pela inteligência (e isso está comprovado cientificamente, por diversos estudos. Vale a pesquisa).

Finalmente, restam os lugares, os passeios; restam os cinemas, os museus, os parques, os teatros; resta a simples caminhada a pé pela cidade ao ar livre. Todas essas atividades que as maratonas de séries impedem de fazer. Ou ainda a dedicação estéril às redes sociais, a discutir com gente desconhecida (ou mesmo com bots pré-programados) assuntos nos quais em nada podemos influir; puro desperdício de neurônios.


Não substituo a ida a um bom sebo por uma maratona de séries ou uma garimpagem de discos por uma extensa playlist: prefiro ouvir cada álbum com atenção e cuidado


Talvez tudo isso pareça ranhetice: seria uma revolta contra os meios digitais? Não, não se trata disso. Tenho smartphone e wi-fi; assino streamings de vídeo e tenho apps de música. Mas não me abandono a elas. Minha atenção está mesmo voltada ao material físico, tátil. Não substituo a ida a um bom sebo por uma maratona de séries ou uma garimpagem de discos por uma extensa playlist: prefiro ouvir cada álbum com atenção e cuidado.

Penso que enquanto derramamos nosso tempo e nossa atenção aos streamings ou às redes, deixamos que a vida lá fora nos escape e desprezamos um tempo que não nos retornará nunca mais.

Guardemos essa palavra: tempo. Eis uma commodity que temos, toda nossa, disputadíssima hoje em dia por diversas companhias e startups de criação e difusão de conteúdo. Vários bilhões de dólares são investidos em tecnologia, inovação e inteligência artificial para capturar nossos dados, nossas preferências e o nosso… tempo. E não nos damos conta disso.

Se você que me lê for jovem, imagine-se agora aos cinqüenta anos ou mais. Imagine-se a explicar a seus filhos ou a seus netos qual música você gostava em sua juventude ou a que filmes assistia. Que canção marcou sua relação amorosa? Depois, imagine que você simplesmente não possa colocar na mão deles algo físico, palpável, que corrobore suas lembranças, a sua história de vida. E por quê? Porque lá no início do século — hoje — tudo estava nas “nuvens”. Seria muito frustrante, não? Valeria a pena?


Se não assumirmos agora mesmo que ficaremos velhos, os meios digitais nos amputarão as lembranças todas, sem piedade, mais cedo ou mais tarde. Nossa memória simplesmente não será documentada por esses meios


Pensemos nisso. E procuremos pelo material físico de sempre. Voltemos às livrarias, às lojas de discos, aos sebos. Não precisamos cancelar a assinatura do Netflix. Sim, tiremos fotos com nosso smartphone; mas não entreguemos nossas melhores lembranças pessoais a uma companhia bilionária chamada Instagram, simplesmente; passemos nossos melhores cliques para o papel.

O fato é que de nada adianta vivermos um presente em looping infinito, desdenharmos o passado e não cuidarmos do futuro. Se não assumirmos agora mesmo que ficaremos velhos, os meios digitais nos amputarão as lembranças todas, sem piedade, mais cedo ou mais tarde. Nossa memória simplesmente não será documentada por esses meios. Os streamings da vida não estarão lá para sempre, poderão falir, mudar a característica ou desaparecer de uma hora para outra. Com isso, um pedaço valioso de nossa vida escapará nuvem afora.

Não deixemos que a internet — e mais especificamente as plataformas que surgem a cada dia dentro dela — nos iluda de modo a fazer-nos sentir aos 21 anos de idade para sempre, forever 21, como o nome daquela cadeia de lojas que faliu recentemente: quem sabe a metáfora nos sirva de lição e zelemos por nossa Curadoria Particular agora, hoje, o quanto antes.



Texto 100% Criação Humana / 0% Inteligência Artificial
(Selo criado por Beth Spencer)