No meio do saguão,
ao longe, há uma dança:
num uniforme cor de nada,
com seu par ela balança.
Mil pernas passam,
ninguém lhe nota;
e nem mesmo ela
olha à sua volta.
A vassoura, empunhada,
é tácita companhia
a bailar com ela,
todos os dias.
A bailarina parece invisível.
Quem contempla sua arte?
Quem sabe seu nome?
Que sonhos tem?
— Certamente ela os têm.
No mar de interesses mil
ninguém dá a mínima
à tímida bailarina
que, cabisbaixa,
mal ousa levantar o olhar.
Mas ela, faxineira-dançarina,
não apenas dança e faxina:
tem alma e anseios, família, RG…
e dança a mesma dança da vida,
igual a mim, igual a você.