UM HOMEM tinha uma mercearia especializada em queijos. Havia-os de toda sorte, e muitas pessoas vinham ao comércio unicamente para comprá-los, de modo que a fama do recinto espalhou-se pela cidade.
O comerciante sempre dispunha, à frente de cada queijo, uma gamela com um bocado do sabor respectivo para que os fregueses experimentassem e, após a escolha, pedissem sua porção.
Todo dia aparecia por lá um rapazinho que degustava as amostras, com voracidade. Quase não sobrava nada para a freguesia! O comerciante percebia, mas fazia vistas grossas ao comilão que devorava, devorava, e nada comprava. E a prática continuou por muito tempo.
Após alguns anos, a paciência do vendedor finalmente esgotou-se. Um dia, quando viu o rapaz chegar para a comilança gratuita, logo o censurou:
“Ei, rapaz, sei bem o que pretendes! Como sempre, vens à minha mercearia, prova de meus queijos com gosto, mas nunca os adquire! Por muito tempo tolerei-te, pois eras jovenzinho. Contudo, já estás barbado, trabalhas e teu vistoso carro ali à porta demonstra que tens muito bem com quê pagar. Portanto, basta: compra hoje um dos queijos ou varre-te daqui.”
Ante a reprimenda, o jovem retorquiu, zombeteiro:
“Tens toda razão, senhor: há anos venho à tua loja degustar de teus queijos. Com efeito, de tanto saboreá-los, conheci-os todos muito bem e, para dizer-te a verdade, estou farto deles. De maneira que não pretendo comprar nada: fica, pois, com tua mercadoria. Sairei por aí a buscar outras vendas, há muitos queijos por degustar!”
Assim é o rapaz que te namora por anos a fio mas nunca casa contigo, moça. Prova-o, e saberás quem ele realmente é.