A “morte” do
amor romântico

O ROMANTISMO morreu no Ocidente. Mataram o romantismo no Ocidente. A hipervalorização do sexo e da sexualidade em si mesma, o culto deliberado do prazer corporal e de orgasmos como direito político-ideológico sufocaram o romantismo, estrangularam-no pouco a pouco, a ponto de hoje este transformar-se numa caricatura distante, cuja expressão é sistematicamente sonegada nas representações artísticas, nos filmes, na música (especialmente nesta), nos programas televisivos e nas propagandas em geral.

Ao mesmo tempo, a cada dia que passa erige-se uma espécie de culto pagão, não ao amor romântico, mas ao resultado final abstraído deste mesmo amor: a relação sexual. Funciona mais ou menos como raspar a cobertura do bolo, comer a cereja que o confeita e jogar o resto fora. O bolo, o conjunto inteiro, não é mais importante. O gesto e o símbolo que ele celebra, tampouco: raspa-se a cobertura, come-se a cereja, descarta-se a massa, e basta.

Este culto ao sexo não se refere apenas às relações sexuais propriamente ditas, mas a um sexo “ideologizado”, reivindicado nas ruas por manifestantes revoltosos, com cartazes erguidos e punhos cerrados em riste; um sexo sem “seiva”, feio, grosseiro, propositalmente vulgar e desejado por ninguém, produzido em massa nas cátedras universitárias e defendido em sisudas teses acadêmicas; um sexo exigido como “direito político” ou, na mais concreta das hipóteses, como mera promoção dum ato biomecânico entre dois ou mais (!) seres humanos, nos quais as respectivas funções genitais são empregadas com a finalidade de se obter prazer físico e sensorial, verter e trocar fluidos corporais, e só.

Como o entorpecente ao viciado, este sexo que substituiu o amor romântico funciona como um estimulante qualquer, cujo único objetivo é a busca da mera “sensação” instantânea: de preferência, devidamente carimbada, oficializada pelos órgãos do Estado e garantida por lei.

Então, tem-se de um lado este “sexo político” de ensandecidas intelligentsias e militâncias, charmoso como um paquiderme; e paralelo a este, oferece-se às massas um sexo “mecânico”, mero “estimulante sensorial”, desumanizado e cínico que as mídias em geral retratam. E lá fora, bem à margem, vagueia o amor romântico, existente apenas como nostalgia de quem viveu noutros tempos e que, para reencontrá-lo, precisa-se garimpá-lo em filmes antigos ou em antigas canções disponíveis no YouTube, por exemplo.

Mas, e quanto às novas gerações, que já nasceram alijadas deste amor romântico sem eco no mundo à sua volta? Para cultivarem o romantismo naturalmente percebido em si e sufocado por mil barreiras, elas dependem também de uma espécie de “paraeducação clandestina”, clandestina posto que ausente dos meios oficiais e escamoteada propositalmente dos entretenimentos de massa.

As novas gerações, para dar vida ao romantismo presente em si, dependem de um necessário cultivo pessoal e oculto obtido por esforço, já que não existe mais nada que expresse e alimente o amor romântico na cultura vigente, tal como outrora. Eis aqui uma opressão que nenhum grupo organizado se dispõe a denunciar. Nada mais sintomático.

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