A mulher potente prepara o cabelo, preenche a bolsa
põe o sapato, aperta o passo, passa firme
fere o piso, num porte convicto
A mulher potente, forte e altiva
é bem preparada. Ela não projeta
a fragilidade ridícula
da mulher antiquada
de face ingênua e enrubescida:
não, a mulher potente não.
Ela é mais que mulher, mais que homem
ela manda no homem, ela manda em tudo, ela pisa no mundo
ela pisa na vida, ela sobe no salto
e prorrompe a doutrina
incontestável.
A mulher potente não se submete
não obedece a ninguém, não senhor:
a todos impõe seu poder
até o sol se pôr…
…e então, recolhe-se.
Diminuída, desnuda-se.
Só, olha seu corpo em pele no espelho
lava seu rosto e o vê como de fato é:
cansado
da postura postiça diária.
Ela não sabe bem quem é.
Ela não mais se reconhece.
Provou ao mundo sua eficácia
convenceu e venceu, ela:
por implacável competência
por inexplicável capacidade.
Porém, a mulher simples nela
a substância mulher
acha-se encolhida
e chora, abaixada:
sente uma tristeza…
um frio interno
a alma gelada
o coração oco…
Uma mulher que não foi mulher.
Que não foi feliz.
Que não foi ninguém.
A mulher potente que ao homem humilhou
e fez no mundo o que quis
prisioneira da própria potência
hoje detesta o que se tornou.