QUANDO o padrão moral abaixa, tudo o mais abaixa. Sinal claro disso é a maneira como soa a voz brasileira na atualidade. No Brasil de hoje, quando se presta atenção, é espantoso como as falas soam artificiais, arrastadas, enjoativas, etc. Irrita a forma como as pessoas falam. Conhece aquele tom típico das reuniões de departamento? É disso que se trata. A afetação estúpida na voz dos homens, o vício das mulheres em falar para ouvirem a si mesmas. Quem ainda consegue conversar com alguém por cinco minutos no Brasil?
A fala masculina – quando de fato é masculina, algo cada vez mais raro – soa histriônica, cansativa, imbecil; a fala feminina soa imitativa, histérica, desagradável ou, em geral, destoa da aparência como um todo. Sem contar a modulação, em ambos: volumes inadequados, sem harmonia, com oscilações desordenadas e ênfases deslocadas.
O problema não é falta de treinamento fonoaudiológico, mas de sinceridade: toda conversa é calculada para produzir certo efeito no ouvinte, nunca para transparecer o coração. As pessoas têm medo de revelar o que pensam, intimidadas por um milhão de códigos de etiqueta que forçam-nas à falsidade. A fala é um dos componentes afetados nesse processo.
Soma-se a tudo isso o vocabulário. Duvido que alguém use mais de duzentas palavras da língua portuguesa atualmente — para ser generoso. Mesmo o palavreado típico de Jornal Nacional, presente nos elevadores e corredores das empresas, embora passe por elegante e apropriado, é medíocre. Demonstra a falta de um nível cultural mínimo que ultrapasse o linguajar da mídia. Bem falar no Brasil de hoje é falar como a Globo ensina.
Como não se pode voltar no tempo e observar de perto como eram os diálogos no passado, basta observar, para efeito de contraste, a sonoridade vocal nos filmes e radionovelas de antigamente: ainda que os atores recitassem textos decorados, é nítido que as mulheres soavam mais agradáveis, doces e musicais, e os homens soavam graves na medida certa, breves, formais, seguros de si. O ritmo era completamente diferente.
A transformação ao longo do tempo foi gritante. Não se trata mais do mesmo país, nem do mesmo povo. Algo grave aconteceu. Sacudir os ombros e dizer “é, mas os tempos mudaram” acomoda o fenômeno, mas não o explica.
A devastação cultural no Brasil é profunda, muito além do que se imagina. Quando o padrão moral abaixa, a primeira a voar pelas janelas é a naturalidade.