“QUANTO mais conheço as pessoas, mais gosto do meu cão.”
— Mark Twain.
— Adoraria saber a opinião do seu cão sobre você, Mark.
“QUANTO mais conheço as pessoas, mais gosto do meu cão.”
— Mark Twain.
— Adoraria saber a opinião do seu cão sobre você, Mark.
O MEDÍOCRE só admira gênios mortos. São inofensivos.
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Ser do contra: a teimosia da impotência.
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Idiotas nunca mudam de opinião.
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Mentiras eficazes contém um pouco de verdade.
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Relativizar a beleza: a vingança elegante da feiura.
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Curioso: a verdade não irrita ao mentiroso, mas ao idiota.
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Inexistem: 1. unicórnios 2. pessoas que mudam de opinião mediante argumentos contrários.
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Gente alegre busca a agitação; gente feliz, a calma.
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Homossexualidade, ou solidariedade amorosa entre similares.
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Acolheu a mentira por conveniência? A verdade se imporá pelo trauma.
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Não é realmente inteligente se não lê poesia.
INVENTEI um país, o Fernandisburgo. No Fernandisburgo, o ensino é assim:
A criança ingressa aos 8 anos. Aprende língua portuguesa e latim (o Fernandisburgo é bilíngue): leitura, gramática, compreensão textual, produção literária e retórica. A modalidade ocupa 50 por cento da grade curricular.
Em matemática, leciona-se intensivamente as quatro operações fundamentais (e um pouquinho de frações, porcentagem, matemática financeira e geometria básica). No ciclo intermediário, contabilidade. No fim do curso, exponenciação e radiciação, de leve. Preenche 30 por cento da grade.
Depois, estudos de cidadania e artes manuais completam o currículo: ambas as disciplinas ocupam 10 por cento da grade cada uma.
A duração do curso é de sete anos. Aos 15, o jovem, após orientação vocacional, pode ser encaminhado a um curso técnico (há opções para diversos ofícios úteis à sociedade) e começa a trabalhar. Caso prefira e demonstre aptidão, faz um exame preparatório e segue carreira acadêmica, como pesquisador ou docente.
Somente na formação universitária o aluno aprende especificidades como logaritmos, angiospermas, gimnospermas, ácidos, bases ou sociologia.
Para a carreira artística, nenhum diploma é requerido: o único critério é o talento reconhecido pelo público e crítica, apenas.
No Fernandisburgo, as empresas são proibidas por lei de exigir diploma superior para funções técnicas de nível médio.
Seremos uma nação próspera e um berço de gênios, com toda certeza.
Soa absurdo? Acaso seu país tem algo de melhor para ensinar ao meu?
*Ah, sim, quase esqueci. O Fernandisburgo não é filiado à ONU.
— O HUMOR é uma ferramenta de aprimoramento tão neutra quanto formidável: no inteligente, aumenta a inteligência; no burro, agrava a burrice.
CARISMA ou você tem ou você não tem, já dizia certa propaganda. Quando se tem carisma, até palavrão vira poesia. É um feitiço misterioso, um charme inexplicável, um solzinho particular o carisma: dele todos querem ficar pertinho, se aquecer, se iluminar; flores em botão abrem-se ante os raios que o carismático emana.
Mas não vou falar dos carismáticos, muita gente já tratou deles. Quero falar com você, pessoa normalzinha, de uma aura meio acinzentada e sem graça; você que não desperta interesse algum. Já era hora de alguém falar com você. Vou identificá-lo como sem-carisma, para facilitar as coisas, ok?
Os sem-carisma sofrem em tempos de rede social. Quando alguém carismático posta algo banal na rede, coisa bobinha, uma foto da obturação no dente por exemplo, ganha logo uma penca de likes, risinhos, comentários fofos e engraçados, solidariedade “ui, Rê, doeu? Tá tudo bem? S2”. Quem vai lá no perfil do carismático vê: 4.990 amigos, 12.955 seguidores (ou muito mais). “Como assim?” pensa o sem-carisma. “Essa daí só posta bobagem!” Fale a verdade, dá uma inveja…
Com frequência, o sem-carisma é justamente aquele que comenta posts de carismáticos. Caixas de comentário são o habitat dos sem graça nenhuma, é preciso dizer. Muitos, almejando um destaquezinho que seja, vivem à sombra dos charmosos, como se a interação virtual os jogasse instantaneamente para o lado dos bacanas. O truque não funciona: então, deprimidos, eles verificam que continuam lá, no cantinho dos desinteressantes, mesmo com aquele comentário tão sublime, tão pertinente… Pôxa, é duro.
Sabe o que acontece, sem-carisma? Você é legal, sim. No fundo, é. Só que algo trava contigo, algo não decola, falta uma coisa astral, entende? De modo que os haters são o efeito colateral de ser sem-carisma, um estado extremo adotado por aqueles que cansaram de tentar ser legal na internet e não conseguiram. Daí, viram a casaca, revoltam-se.
A coisa é séria. Nos Estados Unidos, por exemplo, existem até cursos de carisma, de charme. Psicólogos, coaches, especialistas auto-proclamados de todo tipo oferecem, por módico valor, a arte do magnetismo pessoal. No fundo, fica implícito que timidez e introversão são uma espécie de doença que deva ser curada. Eles vendem que carisma se aprende. Pessoalmente, duvido.
Deixar a timidez e o estilo reservado é contrariar a natureza. É negar a própria personalidade (e aqui descambo para a auto-ajuda). O mundo parece forçar quem não tem carisma a tê-lo, compulsoriamente. Daí, você finge. E sofre.
Tá, antes que narizes formiguem e olhos marejem, vou ao meu ponto: dá para sobreviver sem carisma nas redes? Claro que dá. Em primeiro lugar, não tente fingir, não force para ser agradável e engraçado, bancar o divertido, algo assim. Sem-carisma quando posa de carismático, ou é ignorado sumariamente ou ganha lá uma aprovaçãozinha assim pequenininha, uma caridade, por pura dó — o que é uma forma de humilhação.
“Seja você mesmo” diz o velho conselho. Não tente imitar ninguém. A essa altura você já entendeu que não tem carisma mesmo, e daí? Você não pode brilhar de outra maneira? Talvez não seja o popular, é verdade, mas se sentirá confortável consigo mesmo quando nem se preocupar mais com isso. Cá entre nós: você quer realmente ser popular? Quer ter puxa-sacos, inimigos, stalkers, haters e coisas do tipo? Receber inboxes de gente esquisita? Olha, viver bem e em paz é muito melhor. Perfil lotado em rede social é vulgar, e pode ser um aborrecimento no fim das contas. Administrar reputação virtual — tem coisa mais chata?
Carisma parece a coisa mais importante do mundo, mas não é. “Também não acho, mas duvido que tudo isso aí acima funcione.” Funciona sim, meu pobre sem-carisma desiludido. Funciona sim. Veja, você mesmo chegou até aqui e leu tudinho, não leu? Então.
Miro tua foto que o tempo descoloria
Nela enamorei-me de teus límpidos olhos:
Penetram minh’alma até íntimos refolhos
Ó delicada musa, namorar-te-ia!
Em vão ano nasci, vã a hora em que morrias
Mas unirei-me a ti, minha menina-dos-olhos:
Magia ou sortilégio, qualquer meio escolho
Pois tal amor veraz eu jamais desprezaria
Parto sem temor, que deixar-te é agonia
Cativo voluntário, prisioneiro a voar:
Volto rumo a outrora, à sombra e luz noir
Cores, que são elas? Frívola perfumaria,
Tua expressão me basta, é perfeito convocar:
A mim requeres, sinto-o: diz-me teu lindo olhar!
Me contento sem desdém
Quando astro ou estrela sigo
Grande êxito lhe advém
Creio, aquilo é merecido
Porém, ai! soube de alguém
Que comeu o pão comigo
Criou asas, voou pr’além
Meu viver não tem sentido!
Quero muito que o odeiem
Que perfurem-lhe o umbigo
E o sucesso que hoje tem
Torne em pranto, ex-amigo!
parto, me isolo
em meu casulo
e assim contorno
o ardil do mundo:
eis-me profundo,
imerso no ser…
num simples gesto,
imediato:
abro um livro,
paro pra ler
SABEDORIA é ser senhor das próprias reações.
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Não há canalha que não seja gentil.
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Impossível: convencer um burro da própria burrice.
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Indignação de brasileiro, no fundo, é pura inveja.
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Quem fala asterístico não dá certo na vida.
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Apontar os maus não faz de alguém um dos bons.
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A moda cria; a indústria massifica; a mídia populariza; o povo vulgariza; a moda acaba. E o ciclo recomeça.
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Não há medíocre insatisfeito consigo mesmo.
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Inteligentes se cobram demais; os idiotas se acham preparados.
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O bom gosto é sempre discreto.
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Não leu romance e poesia? Tudo o que leu, não valeu.
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Ama multidões os muito tontos e os muito espertos.
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Medíocres só elogiam consensos.
UM HOMEM tinha uma mercearia especializada em queijos. Havia-os de toda sorte, e muitas pessoas vinham ao comércio unicamente para comprá-los, de modo que a fama do recinto espalhou-se pela cidade.
O comerciante sempre dispunha, à frente de cada queijo, uma gamela com um bocado do sabor respectivo para que os fregueses experimentassem e, após a escolha, pedissem sua porção.
Todo dia aparecia por lá um rapazinho que degustava as amostras, com voracidade. Quase não sobrava nada para a freguesia! O comerciante percebia, mas fazia vistas grossas ao comilão que devorava, devorava, e nada comprava. E a prática continuou por muito tempo.
Após alguns anos, a paciência do vendedor finalmente esgotou-se. Um dia, quando viu o rapaz chegar para a comilança gratuita, logo o censurou:
“Ei, rapaz, sei bem o que pretendes! Como sempre, vens à minha mercearia, prova de meus queijos com gosto, mas nunca os adquire! Por muito tempo tolerei-te, pois eras jovenzinho. Contudo, já estás barbado, trabalhas e teu vistoso carro ali à porta demonstra que tens muito bem com quê pagar. Portanto, basta: compra hoje um dos queijos ou varre-te daqui.”
Ante a reprimenda, o jovem retorquiu, zombeteiro:
“Tens toda razão, senhor: há anos venho à tua loja degustar de teus queijos. Com efeito, de tanto saboreá-los, conheci-os todos muito bem e, para dizer-te a verdade, estou farto deles. De maneira que não pretendo comprar nada: fica, pois, com tua mercadoria. Sairei por aí a buscar outras vendas, há muitos queijos por degustar!”
Assim é o rapaz que te namora por anos a fio mas nunca casa contigo, moça. Prova-o, e saberás quem ele realmente é.