Percorro do centro da cidade as ruas:
Que formigueiro de criaturas!
Um milhão de cores, de estaturas
Sportswears baratos, por todos trajados:
Da função primária deslocados, em portes inadequados.
Os smartphones, sempre empunhados,
Feito uma arma ou talvez companhia:
Que estúpidas conversas esse invento propicia!
Aqui, há um homem-máquina, geométrico, linear…
Dali, uma moça desfila a banal sensualidade de cada dia…
Ao lado, uma senhora aflita, a atormentar-se com quase nada…
Acolá, ouve-se um falar malandro dum pobre-diabo
Com suas pseudo-vitórias a relatar…
— Por Deus, será feliz essa gente, será?
Qual seu propósito, o quê as move, o quê pretendem, constroem?
Se morressem hoje, quem lhes choraria?
E na lembrança, o quê deixariam?
(…)
Tudo nesta cidade me parece compacto.
Caótica, tribal, moderna dança…
Não sei, afinal, quem é bom ou mau,
apenas espantam-me os detalhes:
As gentes me espantam, qual a uma criança.