Considere o
caso consigo

QUANDO o garoto José contou a seus irmãos um sonho que tivera, eles, enciumados e revoltados com o que ouviram, logo conspiraram para vendê-lo como escravo no Egito. Está na Bíblia, em Gênesis.

Antes disso, quando o pai de José, Jacó, ouviu o filho relatar o sonho — de que toda sua família, pai, mãe e irmãos se ajoelhariam perante a ele algum dia, no futuro — ele estranhou a princípio, ficou contrariado; mas, diz a Bíblia, considerou o caso consigo.

Considerou o caso consigo. Chamo a atenção para essa expressão. Desde a primeira vez que a li, aí pelos meus onze ou doze anos, ela cravou em minha memória. Aos poucos, passei a nunca mais discordar nem concordar com nada de imediato, mesmo que soasse improvável ou absurdo à primeira vista (exceção, evidentemente, a tudo que causasse dano real comprovado pela experiência).

Não sei como, aquilo se internalizou, integrou-se à minha personalidade. A partir de então, passei sempre a considerar o caso comigo. Se ouvisse agora mesmo um mendigo da rua dizer “serei presidente do Brasil”, batata: consideraria o caso comigo. Claro, acharia improvável, mas não impossível. É isso.

Sem querer, Jacó antecipou, de certa forma, o método socrático de busca da verdade. O ponto é: quando ouvir algo inusual e estranho, por mais inverossímil que pareça a princípio, não custa considerar o caso consigo. É uma hipótese, apenas, não dói nada. Deixar a realidade falar e o tempo comprovar, eis a chave.

Voltando à história bíblica: no final das contas, o sonho de José se realizou.

Antes de varrer rápido da mente uma informação não habitual, ainda que cause choque ou desconforto mental no começo, considere o caso consigo. Se acontecerá ou não, dependerá de outros fatores.

Esta disposição especial é mais sábia do que disparar a esmo contras e a favor, gosto e não gosto. É esperar, examinar as coisas, pesar as possibilidades. E se preparar, se for necessário. O contrário disto é ignorância idiota, e só idiotas nunca mudam de opinião.

Considere o caso consigo. Sempre.

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