Desafogo

Após a traição, o perverso sorriu.
— Deus, porque me deste consciência?
Pois ela agrava o mal a cada passo
E toda injúria pesa-me nos ombros.

Fujo e evito infortúnios;
Fujo de minhas contradições;
Fujo dum caráter claudicante;
Fujo do ridículo infamante;
Fujo do mal latente e potencial, errante.

Quanto ao perverso, o perverso não:
Ele faz o mal e se ri.
Dormirá ele leve, sem culpas?
Lhe doerá a consciência?
Como Asafe, vejo seu agir exato e frio…
Seus olhos não demonstram qualquer duvidar…
Segue e prossegue, confiante, altivo.
Ampara-se em quê? Apoia-se em quem?
Não tem consequência o seu errar?

(calo-me um momento e respiro…)

Indagações complexas num finito compreender.
Enquanto não há respostas, oro:
A Ti entrego meu viver.
Vingança não peço, tampouco justiça,
Pois não é justo meu querer.
Este fardo sinto e não posso esconder.

Leva-me para longe, ao Teu seio, Teu ar!
O mal do mundo cessará, assim? Não o sei…
Queiras Tu meu sofrimento encerrar.
Tua graça é tudo que preciso e rogo:
Venha com ela minh’alma abastar.

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