É verdade, não sou o centro do universo.
O mundo não existe por minha causa.
Não passo de um medíocre — com esforço.
Não sei escrever como gostaria.
Não tenho dinheiro além do suficiente para sobreviver como gente.
Sou brasileiro – não nego, não gosto: portanto, não alardeio.
Sou esquisito; o que me traz certas vantagens (não conto quais são).
Não meto-me na vida alheia: viva com suas escolhas e não reclame depois, eis a minha lei.
Mudo década após década. Quando não mudar mais, “bem sei quem sou”, finalmente direi.
Não exijo atenção: não mereço ser lido. Mas quem quiser — que honra! — seja bem-vindo.
Desprezo a muitos, admiro a poucos e ignoro a maioria.
Não me sinto bonito nem feio. Não penso no que vejo ao espelho.
Não temo a morte. Morte é sono e eu adoro dormir.
Creio em Deus. Ele existe? Em mim existe, e isso é tudo.
Desprezo política: de sorte que põem-me na parte direita da arquibancada, sem que eu o peça.
Sou sensível, porém macho, rapá. Porque gosto e gosto não se discute, certo? Errado.
A maioria das músicas de que gostava na adolescência, ainda gosto, porém menos.
É bom ficar velho: “ficar”, o processo; não “ser”, a condição.
Sou boa pessoa. Não tanto quanto preciso, porém acima do que imaginam, imagino.
E o mundo não existe por minha causa.
Ainda bem.