
Tempo de leitura: 3 minutos
O hábito de ler e de usar os livros (usar, eis o verbo, pois livro é meio e não fim em si mesmo); enfim, o ato de “consumir” livros ainda não se disseminou a contento no Brasil, longe disso. Não aprendemos a servir-nos deles, da mensagem ali contida (se nos servirem, evidentemente), para assim formarmos nosso próprio repertório cultural e beneficiar a outros ao nosso redor. A ilusão –ignorante e alienada, típica de quem não lê — de que importa mais a praticidade objetiva do dia a dia do que as leituras, tidas por distração inútil, mesmo essa prática objetiva não será eficaz, significativa e inteligente sem que esteja inserida de alguma maneira na grande experiência da Humanidade a que todos pertencemos, e que está na maior parte registrada nos livros.
Com efeito, existem diversas questões a se levantar a respeito do tema “o Brasil e a leitura”. Não se pretendeu aqui esgotar o assunto. Sabe-se também as múltiplas dificuldades estruturais que incidem nessa questão, que não abordamos aqui. Quando falamos de nossa falta de intimidade com os livros, há algo de verdade em praticamente todos os diagnósticos, inclusive o de que eles são caros, ou que muitas cidades do país carecem de bibliotecas públicas, ou ainda de que a escola trata a literatura como castigo e remédio amargo, terminando por afastar os alunos dos livros, etc. Cada um desses problemas abre franjas e arestas sem fim.
De sorte que lanço um último e simples apelo: quebrar o encanto. Manusear o livro, em qualquer tempo. Se não houve contato com eles na infância, que haja na maturidade. Não importa. Importa ter o desejo de abrir um livro e de lê-lo. Se não gostar da obra (sim, pode-se não gostar e tudo bem, sem traumas), parta para outro título e mais outro e ainda outro.
É preciso habituar-se ao ritmo da leitura própria dos livros, como quem aprende os passos de uma dança. Dança: sim, livros têm algo disso. É preciso deixar-se conduzir pelo autor na dança da leitura
A falta de costume pode desanimar no início da jornada. É preciso habituar-se ao ritmo da leitura própria dos livros, como quem aprende os passos de uma dança. Dança: sim, livros têm algo disso. É preciso deixar-se conduzir pelo autor na dança da leitura. Pausar um pouco, respirar, pensar. Concordar ou discordar, mas antes refletir e justificar a si mesmo a própria opinião que a leitura despertou; e não raro descobrir-se errado mais à frente e rir de si mesmo. Só a dança da leitura nos dá esse prazer.
Quebre o código — a palavra impressa na página — e pouco a pouco decifre, extraia dali os tesouros interiores. Livro algum precisa ser novo e caro. Existem sebos pela cidade ou online, com edições baratinhas, a preços quase simbólicos. O importante não é só forma mas conteúdo: livro para dobrar, anotar na margem, rabiscar a frase bonita, sublinhar o trecho importante.
“Não leio, pois não tenho tempo”. O fator tempo, claro. Quando ler? Nesse caso, não tem jeito: andar com o livro por aí, sejá físico ou eletrônico. Surgiu um minutinho, leia. Aproveitar as filas, a viagem no transporte público, a espera nas recepções. Vinte minutos por dia, uma hora e meia por semana, seis horas por mês, setenta e duas horas por ano (sem contar sábados e domingos). Com o passar dos anos, tudo isso acumula muita leitura — e muita cultura, também. Mal não fará.
E de cultura precisamos, agora, para melhorar o Brasil espiritualmente. Com urgência. Se você chegou até aqui, ao final da série, ouso dizer que você é um leitor, ao menos em potencial. Que tal começar agora a transformação do país? Está disposto? Basta pegar um exemplar e começar. Mal não fará, garanto.

Texto 100% Criação Humana / 0% Inteligência Artificial
(Selo criado por Beth Spencer)