Escute, Catarina

Sabe de uma coisa, Catarina?
Foi tudo aparência. Mera fantasia.
Veja nossa vida:
tão séria, estabelecida, documentada…
Ela foi, de verdade, vivida?

Falo por mim: sempre fui lógico.
Tediosamente lógico.
E era pragmático:
Tão fácil é ser pragmático
antes do castelo desmoronar…

Pensávamos haver uma vida normal…
Que risível, Catarina.
Vida alguma é normal.
Normal é ponto de vista, menina.

Fizemos o mesmo, todo dia,
Não mudamos vírgula:
Isso não nos fez alguém normal.
Normal foi só a rotina.

E tanta gente viveu diferente:
eram exóticos aos nossos olhos.
Mas também eles viam-se normais.

Não fique surpresa, Catarina…
Eles diferentes, nós sempre iguais:
somos todos idiotamente reais.

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