Na terra crua

Deito-me inerme na terra crua
E sujo-me com o pó de que fui feito.
Com os olhos fixados no alto céu,
Medito reflito e vejo a mim mesmo:

O quanto enganei-me vezes tantas
Ingênuo, envolvido em vã aparência
E vaidoso, qual Narciso na lenda
Apaixonei-me pelo lindo reflexo
E n’água profunda quase mergulhei…

.    .    .

Mas deitado, aqui, na terra crua
Na terra nua a qual ninguém valoriza
Retorno meu ser à condição inicial
E emulando antecipo o destino final

Na terra suja, estendido, me purifico
No húmus sagrado, relembro quem sou:
Do pó vim e ao pó tornarei
E desde aqui minha humildade advém:

Do santo solo, da terra absorvente,
Onde o grão morre e renasce
Onde a planta, tão mais se aprofunda,
mais firme se impõe…

.    .    .

Humilde enfim, e fitando o céu
Deito-me aqui, na terra
Sujo-me aqui, na terra
Para lembrar-me, sem vacilar:

Se humilde a Ele me humilhar,
No húmus deitado, a soberba deixar
Ele, desde esse chão me exaltará.

Eis o que o Amor Sagrado estabeleceu:
Humildade é, portanto, perder para ganhar,
Com Deus.

6/7/2014


Publicado originalmente no blog Letra Nascente

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