O missionário
e a tribo

UM MISSIONÁRIO chegou a uma tribo distante, quase isolada e que não constava no mapa. Instalou sua cabana perto dali e passou a observar os nativos, aprendendo sua língua e costumes, para enfim catequizá-los de uma maneira que eles pudessem entender, de acordo com sua cultura.

Todos os dias o missionário, com a bênção do pajé (ou o seu equivalente), observava os costumes da tribo: como era sua rotina, como caçavam, como pescavam, o quê comiam.

E nessas observações o missionário, a cada coisa que aprendia, tomava notas a fim de registrar o modo de viver dos nativos. Anotava minuciosamente, registrava cada detalhe para assim poder entendê-los e quem sabe ajudá-los numa dificuldade.

Assim permaneceu por aproximadamente seis meses. Após esse período, o missionário já se comunicava razoavelmente com a tribo, particularmente com o chefe, que lhe explicava as tradições do seu povo quando o missionário lhe perguntava.

Um hábito tribal que o missionário observou e que lhe deu uma baita dor de cabeça foi o costume que os nativos tinham de comer certa raiz com a qual preparavam um ensopado, e que, diziam, dava-lhes força e os revigorava para as tarefas. A tal raiz desconhecida compunha a dieta deles desde sempre, porém, o missionário notou que esta causava um terrível efeito colateral: mulheres grávidas que dela experimentavam sofriam aborto espontâneo. Da mesma forma, quando o ensopado daquela raiz era servida a crianças pequenas, muitas morriam após febres terríveis.

A raiz só podia ser venenosa, concluiu o missionário. Ele enviou amostras para laboratórios no seu país de origem, e depois de longos dois meses o laudo trazia em detalhes todos os componentes da planta. De fato continha substâncias altamente tóxicas, que se por um lado revigorava aos adultos, por outro lado podia ser mortal a bebês em gestação e a crianças pequenas que não tivessem resistência física para consumir a planta.

Ciente dos dados, o missionário procurou o pajé para informar-lhe os perigos que a sua tribo corria. Fez-lhe muitas advertências, explicou da forma mais didática possível o mal que acometia a tribo ao consumir o ensopado. O pajé a princípio fez pouco caso, disse que as crianças morriam por vontade dos deuses e que não havia com que se preocupar.

Após a insistência incansável do missionário, que tratava a situação uma questão de vida ou morte, o pajé contrariado e prestes a proibir a entrada do missionário na tribo, lhe disse o que havia, na sua língua:

— Homem branco dizer que raiz é raiz má. Homem branco cansar pajé dia e noite com reclamação da planta. Pajé irritado com homem branco, tribo irritada também, reclama com pajé.

— O senhor não entende — respondeu o missionário — já lhe expliquei que a raiz tem veneno mortal. Pode acabar com o futuro da tribo porque mata muitas crianças. O senhor não se preocupa?

— Pajé não ser mau, pajé não ser burro. Pajé entender homem branco. Homem branco dizer “raiz ruim, raiz venenosa” mas não mostra raiz boa pra tribo de pajé. Então tribo ainda comer raiz venenosa mas homem branco não mostra raiz boa pra comer.

Moral da história: não adianta somente apontar o ruim, é preciso oferecer opção melhor.

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