O violeiro

Todo dia, na rua do bairro fabril e decadente
o violeiro senta-se com sua viola.
Entre um acorde e outro, o caipira desraizado
levanta a aba do chapéu, cumprimentando
transeuntes e carros que o ignoram, apressados.

Ele, com intransponível disposição
mantêm serenos o olhar e o sorriso,
esperando qualquer moeda
ou um miúdo cair no chapéu
que ao chão jaz depositado.

Enquanto pedestres, atarantados,
não o olham, nem o percebem,
cada dia um pouco noto,
o pouco caso deste curioso retrato.

Chegará, pois, o dia:
operários em seu passo
patrões em seus carros
cruzarão a esquina, na diária rotina
e o violeiro não se achará mais ali:
     com seu chapéu,
     o sorriso ameno,
     seu semblante marcado
     o surrado instrumento.

Não lhe saberão o nome e a história de vida
se mesmo foi feliz sua existência.
E o bairro fabril, cinzento e decadente,
continuará cheio de atarefados passantes
e quase sem nenhuma gente.

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