Num muro da cidade, a inscrição
profundamente prosaica, diz:
“mais amor, por favor”.
Assim reclama o neo-chavão.
Medito e penso: errado pedido.
Sai, desde a base, deslocado:
pois pede-se um amor medido,
um pseudo-amor, quantificado.
Querem amor em porções,
vendido em doses, multicores?
O que entendem ser o amor,
ó tristes almas pós-modernas?
Tomam por amor a vã complacência,
sentimento cortês, boa convivência…
Como amar mais, amar menos?
Há o amar, completamente.
Que é amar?
é negar-se, é sofrer, é crer, abdicar;
é coragem, é doar e não requisitar.
Peso e medida não tem:
o amor não se pode mensurar.
O único amor possível
é dádiva suprema:
virtude por meio da qual
todo bem deriva.
Nasce, flui, total, não parcial
vem do Eterno e inunda a vida.
Nesse uno amor, desnecessário é
rebaixar-se e implorar, em muro sujo,
por um sentir abstrato e obscuro
a desatentos transeuntes.