Reclamar
é humano

ALGO QUE não compreendo é o problema que certas pessoas têm com reclamações. “Odeio gente que reclama!” Ora, e por quê? Pois eu desprezo quem nunca reclama: não há nada mais falso do que reprimir-se e nunca reclamar. Por acaso quem não suporta queixas vive uma vida perfeita, numa permanente Disney World existencial?

Há quem advirta aos demais de que não se aproximem dela se for para reclamar. Há quem não suporte quando um outro lhe chama de canto e desabafe e lhe faça objeções.

Que fracas, que fraquinhas são essas pessoas anti-reclamação! O bom-humor e a leveza delas depende sempre de um entorno florido, repleto de sorrisos amarelos, pavimentado de gentilezasinhas protocolares e fúteis; caso contrário, o castelo de cartas que é seu estado de espírito desmorona!

“O caso é que tal sujeito só reclama, o tempo todo”. Duvido: o sujeito não reclama o tempo todo. Talvez tenha reclamado com mais frequência ultimamente porque nunca é ouvido, porque é ignorado. Quer livrar-se do queixoso? Experimente entrar no tema, no teor de suas queixas. Ouça, entenda e debata; faça-lhe perguntas — desenvolva com ele os tópicos em questão. Converse, em suma.

Talvez você não queira conversar com tal pessoa, claro. Bem, neste caso, o problema é outro: você não aprecia a companhia daquele indivíduo. Se for assim, seja honesto consigo mesmo: o problema não é a reclamação mas a companhia desagradável. Ora, esquive-se! É seu direito. Fingir atenção é um mau hábito, não se imponha tal coisa. Só não diga que o problema são os queixumes em si; não são.

No mais, honestamente, o que você prefere? Um ambiente de bom humor geral claramente falso? Um ambiente no qual evita-se qualquer assunto espinhoso, sob pena de adentrar questões mais profundas, opiniões mais íntimas?

Tal ambiente teatral é opressivo, no fim das contas. Se fôssemos moralmente saudáveis, fugiríamos dessa profilaxia opinativa, que nada mais é que censura social auto-imposta.

Reclamões ocasionais pelo menos são verdadeiros em sua atitude. Desconfie, isto sim, de gente boazinha que só sabe distribuir sorrisos simpaticamente e jamais reclama: tem coisa errada aí.

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