A revanche

As certezas todas e meus arrimos
A um só tempo mostraram-se inúteis:
À ruptura dos tempos, calei, amargurado.

Ao derredor vi alegres niilistas,
Férteis e prósperos a vicejar,
E a negar minha expectativa
Dum inevitável e exemplar castigo.

Justiça divina? Justiça minha:
A duras penas descobri.
Mas não me arrependi. Fechei-me
Em sérias convicções a eles obsoletas,
quiçá risíveis, quando as expunha.

Depois, encasulei-me: tranquei da alma
As portas e janelas, cerrei as cortinas.
Pouco se me dava, fosse noite ou dia
Ou data festiva: queria de volta
O tempo aprazível, a beleza sã,
Seguro esteio que neguei ser ilusão.

Então o jogo contra mim virou-se
As chances todas me foram contrárias.
Decidi: faria eu mesmo um jogo, só meu:
Pregaria no deserto, a pedras, plantas
E a quem mais quisesse ouvir-me.

Vã operação? Talvez, havia a hipótese.
Se me cressem todavia, ah, se um par de almas ouvisse!
Lançaria miúdas sementes e, no entanto, perigosas.

Quanto àqueles, pagariam o menosprezo
De repisarem, destruírem tudo que eu amava.
Decerto, caro pagariam: oportunamente.

Pois era aquela a minha vez:
Naquele instante o vendaval se fez.

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