Coisa irritante

HÁ MUITAS coisas irritantes e cada um tem sua lista pessoal de coisas irritantes. Da minha, destaco um item: não restringir a si próprio. Este, asseguro, é um dos vícios prediletos nestas paragens. Sinal de nossa falta de civilidade, categoria abortada no solo pátrio desde a precisa data de 15 de novembro de 1889.

Não restringir a si próprio, o que é? O termo vai além da expressão não se tocar ou não se mancar. Para entender melhor, imagine que você, eu ou qualquer pessoa tenha certo espaço delimitado em torno de si, algo como um círculo. Melhor: imagine cada pessoa envolta por uma bolha invisível (bolha ilustra bem). Imaginou? Pois bem: restringir-se consiste em respeitar a exata distância que vai de um corpo à parede da própria bolha, e da parede da bolha subseqüente ao corpo que ela contém; desse modo, nunca invade-se o espaço alheio: as bolhas ficam perfiladas ou justapostas. Se em ambientes com pouco espaço disponível a pressão entre as bolhas for inevitável, mesmo assim os corpos estarão protegidos de indesejáveis apupos, ruídos perturbadores e outras inconveniências.

Por que tanta gente não sabe restringir-se? O problema é que brasileiros são muito carentes. Ok, não sou nenhum finlandês: nós somos muito carentes (melhor colocado). Insisto, por que raios somos assim? Carentes mesmo, observe. Daí que muitos adotem o vício de precisar aparecer, fazer-se violenta e indiscretamente presente, chamar atenção a todo custo, pisar no dedão do universo. Quem nunca viu gente assim? Aquele tipo que chega aos berros no recinto, a fazer graça com o vácuo como se falasse com “a geral”. Ou ainda aquela menina, no transporte coletivo, discutindo constrangedores problemas familiares com a mãe em seu Samsung: “então, mãe, não adiantaaa, entendeeeu? Esqueeece, esqueeece…” Os exemplos são inúmeros.

As vítimas dos não-restringidos: comedidos e discretos. Eles são as vítimas preferenciais dos, digamos, mais expansivos. Às vezes, está você tranquilamente n’algum local público, seja a biblioteca municipal ou o banheiro do shopping center, por exemplo, fazendo o que se faz nesses lugares, oras. Ali, na sua. E eis que dos ralos e tomadas surgem os carentes performáticos, sozinhos ou em bando, a bradar alegrias incontidas num tom de voz calculado para chacoalhar seus neurônios. Nesta hora todos devem escutá-lo; é muito, mas muito importante que eles sejam ouvidos pelo maior número possível de pessoas. Não há escapatória, não há misericórdia. Quanto mais silencioso o recinto, azar: eles possuem um radar especial para detectar tais ambientes. Daí chegam, inflam os pulmões, ativam as cordas vocais no volume máximo, expandem-se: não restringem a si próprios.

Mas voltando ao exemplo das bolhas isolantes. Qualquer leitora de memes fofos em redes sociais condenará esta minha sugestão de viver em bolhas. Terá calafrios. “Oh, não! Não podemos viver isolados! Não somos uma ilha”, etc. Olha, de fato não somos mesmo, e aí está o problema. Temos companhia demais.

Compare a densidade populacional de uma São Paulo com uma Zurique e veja do que estou falando. Falta isolamento, acredite. Falta por aqui uma frieza sutil entre os indivíduos, certo distanciamento entre as pessoas. Ademais, sabe, é interessante transmitir um ar misterioso e reservado, algum charme enigmático feito uma caixa de bombons por abrir. É próprio da boa convivência um mostra-esconde, um leve chiaroscuro nas personalidades, dos quais brotem a curiosidade e o desejo. Pessoas abertíssimas feito pernas em camas ginecológicas causam choque inicial, porém, logo revelam-se tão estupidamente banais que não têm graça nenhuma afinal de contas. São tolerados, na melhor das hipóteses.

Sim, sem qualquer reverência blasfemo aqui o deus calor humano e cuspo no altar da deusa mais amor, por favor. Não me importo. Talvez tais divindades estejam em falta na Islândia. Já por aqui, na terra da micareta, do carnaval e da Ivete Sangalo, elas estão sobrando: tanto assim que dá até para mandá-las à Islândia num contêiner. Junto com a Ivete Sangalo.

Portanto, quem deseja ser feliz sem encher o saco alheio deve aprender a restringir a si próprio. Discrição é a regra número um das pessoas especiais. Não apenas, obviamente: recomenda-se adquirir algum conteúdo para um contato eventual. Ler uns livrinhos aqui e acolá não dói nada. Requer apenas um leve esforço.

Enquanto praticar a nobre disciplina da auto-restrição viva aí, quietinho e especial, elegante feito um gentleman ou graciosa feito uma lady. Cada qual quietinho na sua bolha. Ah, mas essa bolha é frágil, te contei? A qualquer momento ela estoura, e os encontros acontecem.

Mal-humorados x bem-humorados

— MAL-HUMORADOS não são realmente muito sexies e agradáveis; não são desejados à primeira vista. Ninguém os convida para festas, por exemplo, a menos que se tenha um bom motivo para isto.

No entanto, eles tendem a ser mais competentes e a cumprir à risca a expectativa que lhes é depositada. Uma vez pouco procurados, cada pequena missão que recebem será feita da melhor forma que puderem, pois precisam provar que são bons no que fazem.

Simpáticos e carismáticos, por outro lado, tendem à mediocridade. O esmero que lhes falta é compensado por sorrisos e humor leve, e a massa confunde simpatia com eficácia: não por outra razão são tão requisitados.

Bem-humorados seduzem no início e desapontam no final; mal-humorados repelem no início mas cativam no final.

Difícil é ter sensibilidade e perceber tal sutileza.

Falso
moralismo!

EXPERIMENTE apelar à moral numa certa situação: logo alguém se levantará e esbravejará “falso moralismo!” com o dedo em riste. Pergunto: onde está o verdadeiro moralismo? Quem indiscutivelmente é autoridade em matéria de moral? Sim, porque na expressão falso moralismo, de modo implícito se está a dizer que existe o verdadeiro moralismo. Para todo falso corresponde um verdadeiro e vice-versa, certo? Pois bem: se, via de regra, quem apela à moral é falso e hipócrita, quem será verdadeiro?

Na acusação “falso moralismo!” há um equívoco, um princípio cristão enlouquecido, para usar a expressão de Chesterton. O princípio é o seguinte: todos são pecadores, portanto ninguém deve atirar pedras no outro quando este falhar. Todavia, ao apelar-se à moral em abstrato, o princípio de que “todos são igualmente pecadores” não se aplica. E por quê?

Simples: porque a moral não é um tipo de santidade, de pureza celestial ou de perfeição comportamental. A moral não é propriedade exclusiva dos anjos ou dos santos. Na verdade, moral é um código tácito, um freio ético inerente à sociedade humana, à civilização. É uma barreira valorativa obtida por tentativa e erro ao longo do tempo, que delimita o que se pode ou não se pode fazer para preservar a harmonia entre as pessoas. Se não existisse a moral, a selvageria destruiria a civilidade e a lei do mais forte prevaleceria.

Quando as regras morais não são devidamente observadas, problemas aparecem, pessoas são prejudicadas em maior ou menor grau; e, neste instante, qualquer um pode apelar à moral, não importa quem seja, monge ou gigolô, mocinho ou bandido: o que está em jogo não é a conduta pessoal e íntima deste ou daquele em particular. Apelar à moralidade é defender os pesos e contrapesos sociais que mantém um saudável equilíbrio entre todos os cidadãos e garantir que a vida prossiga sem sobressaltos nem concessões danosas.

Agir moralmente significa não prejudicar deliberadamente o semelhante, não trapacear. E quando apela-se à moral, relembra-se um princípio óbvio: todos estamos debaixo das mesmas regras e estas valem por si, pouco importa o mensageiro.

Claro que se o moralista do momento for alguém cuja reputação é no mínimo questionável, sem dúvida será algo constrangedor. Vale refletir porque aqueles que deveriam ser os guardiões das regras morais não se manifestaram. Se ninguém clamar, as pedras clamarão.

De uma vez por todas: não existe falso nem verdadeiro moralismo. Existe moralismo — talvez enfadonho, sim; talvez incômodo. No entanto, qualquer moralismo é verdadeiro em si mesmo, porque a moral é verdadeira. Acontece que, do mesmo modo que a luz quando acesa “humilha” a escuridão, quem relembra regras elementares de conduta pública humilha aqueles que deles nunca deveriam ter se esquecido, e a vaidade ofendida lhes dói. Acusar de “falso moralismo”, então, é uma maneira diferente de gritarem “ai, minha consciência!”.

Reclamar
é humano

ALGO QUE não compreendo é o problema que certas pessoas têm com reclamações. “Odeio gente que reclama!” Ora, e por quê? Pois eu desprezo quem nunca reclama: não há nada mais falso do que reprimir-se e nunca reclamar. Por acaso quem não suporta queixas vive uma vida perfeita, numa permanente Disney World existencial?

Há quem advirta aos demais de que não se aproximem dela se for para reclamar. Há quem não suporte quando um outro lhe chama de canto e desabafe e lhe faça objeções.

Que fracas, que fraquinhas são essas pessoas anti-reclamação! O bom-humor e a leveza delas depende sempre de um entorno florido, repleto de sorrisos amarelos, pavimentado de gentilezasinhas protocolares e fúteis; caso contrário, o castelo de cartas que é seu estado de espírito desmorona!

“O caso é que tal sujeito só reclama, o tempo todo”. Duvido: o sujeito não reclama o tempo todo. Talvez tenha reclamado com mais frequência ultimamente porque nunca é ouvido, porque é ignorado. Quer livrar-se do queixoso? Experimente entrar no tema, no teor de suas queixas. Ouça, entenda e debata; faça-lhe perguntas — desenvolva com ele os tópicos em questão. Converse, em suma.

Talvez você não queira conversar com tal pessoa, claro. Bem, neste caso, o problema é outro: você não aprecia a companhia daquele indivíduo. Se for assim, seja honesto consigo mesmo: o problema não é a reclamação mas a companhia desagradável. Ora, esquive-se! É seu direito. Fingir atenção é um mau hábito, não se imponha tal coisa. Só não diga que o problema são os queixumes em si; não são.

No mais, honestamente, o que você prefere? Um ambiente de bom humor geral claramente falso? Um ambiente no qual evita-se qualquer assunto espinhoso, sob pena de adentrar questões mais profundas, opiniões mais íntimas?

Tal ambiente teatral é opressivo, no fim das contas. Se fôssemos moralmente saudáveis, fugiríamos dessa profilaxia opinativa, que nada mais é que censura social auto-imposta.

Reclamões ocasionais pelo menos são verdadeiros em sua atitude. Desconfie, isto sim, de gente boazinha que só sabe distribuir sorrisos simpaticamente e jamais reclama: tem coisa errada aí.

O garoto
e a loja hostil

QUANDO GAROTO, gostava de passear pelo centro de São Paulo e explorar sozinho lugares que antes só frequentava com meu pai. Digo sozinho porque acabava de conquistar o direito de andar pela cidade desacompanhado, de modo que aqueles passeios tinham um significado todo especial para mim. Foi uma conquista.

Um dos lugares nos quais passeava era pelas lojas de instrumentos musicais. O ano era 1994, e naquela época eu estudava teclado. Sonhava adquirir um daqueles instrumentos para mim: via as vitrines, vários deles expostos. As lojas permitiam que se experimentassem, que se tocassem os teclados; ao menos, foi o que vi quando passei por lá: vendedores ligavam os instrumentos e os clientes em potencial tocavam — ou pretendiam tocar — teclados e demais instrumentos musicais da loja.

Ao ver aquela cena, pensava algo como: “entendi… qualquer dia vou pedir ao vendedor que me deixe ligar um teclado destes para experimentar, ter a sensação de como é”. Caramba, eram instrumentos profissionais aqueles, bem diferentes do Casio velhinho e surrado que eu tocava na escolinha de música.

Havia uma loja em especial de que eu gostava bastante: uma revendedora oficial da Roland, marca de teclados profissionais os quais eu sonhava adquirir um dia, “quando crescesse”. No entanto, garoto, sabia que naquele momento comprar um Roland era algo fora do meu alcance. Meu pai também não tinha condições para tal, eu estava ciente disto, portanto nem tentava pedir.

Restava tomar coragem e falar ao vendedor que me deixasse experimentar um pouco: tarefa nada fácil para um garoto de 14 anos. Mas um dia, finalmente entrei na loja, tomei coragem e pedi ao vendedor: decerto ele não negaria, já que outros fregueses estavam ali, tocando e “degustando” os instrumentos e quase nenhum realmente comprava…

Então, respirei fundo e perguntei se poderia tocar um pouco o teclado objeto do meu desejo. Ele atendeu, sim; porém, muito a contragosto. Soltou um tedioso “tá, só um pouco, vai”, com muita má vontade, era visível. Eu, tímido, mal pude “sentir” o que era tocar aquele teclado. Queria tocar, misturar os sons, ver o que ele tinha de especial. Nada disso foi possível, porém; o vendedor logo me enxotou com um “chega, outro cliente quer ver”. Mentira, ninguém queria ver. Ou seja, para ele, eu não era cliente. Era um fedelho curioso, talvez, nada mais. Não entendi isto na hora: só depois, no ônibus de volta para casa, matutando, é que percebi que não era bem desejado ali.

No final de semana seguinte, voltei à loja. Outro vendedor, que provavelmente me observara na semana anterior, viu que eu observava a vitrine e perguntou de forma ríspida se compraria alguma coisa. Minha resposta foi “não”, obviamente; então, ele postou-se como uma sombra ao meu lado, meio que tacitamente afastando-me dali. Foi a gota d’água. Em minha resolução de menino, prometi a mim mesmo que, se algum dia juntasse um bom dinheiro compraria um teclado em qualquer loja, menos naquela.

Passaram-se algumas semanas. Visitei outras lojas depois disso, mas aquela específica, nunca mais. Naquela altura eu já trabalhava, estava no segundo ano de um emprego pelo qual recebia a exata importância de 208,68 URVs (lembre-se, era 1994). Na época, o salário representava até um dinheirinho bom para mim, embora não o suficiente para comprar um teclado mediano, quem diria profissional. Mas tinha um plano em mente: guardaria meu décimo-terceiro salário mais o salário do mês, depois mais um pouco do mês seguinte, e assim teria o suficiente para comprar um tecladinho, simples mesmo, só para praticar.

Contei meu projeto a meu pai. Apesar de não estarmos numa situação muito confortável, ele me disse que bastaria usar meu décimo-terceiro salário que o resto ele completaria. Eu mal podia acreditar. Naquele final de ano, teria finalmente meu teclado novinho.

Então, veio o grande dia: dei a minha parte do dinheiro a meu pai e ele completou o restante. Já tinha tudo em mente: o modelo do teclado, a loja, o preço. Era só pagar e levar, e foi o que aconteceu. O vendedor da loja atendeu meu pai super bem, naturalmente, apesar daqueles agrados forçados do tipo “e aí, garotão” dirigidos a mim. Tudo bem. Finalmente tive o que sempre quis. Para ser específico: naquele dia adquiri um Panasonic KZ250 com case original. A aquisição superou minhas expectativas, pois não era qualquer tecladinho, mas um lançamento direto do Japão.

Detalhe: a loja em que comprei não era aquela dos vendedores hostis. Era outra, ligeiramente mais amigável. E ela vendeu um teclado, para mim. Para o garoto pentelho.

De posse de meu Panasonic KZ250, deixei de frequentar lojas de instrumentos musicais por um bom tempo. Esqueci aquela loja hostil e nem passei mais em frente à ela, por meses.

Num dia, porém, eis que passo por aquela rua e me dá um estalo: vou lá naquela loja, de propósito, para ver se aqueles vendedores tinham tomado jeito ou continuavam enxotando clientes em potencial.

Só que daquela vez não foi possível fazer o teste: assim que bati os olhos na fachada, reparei que a loja havia fechado as portas. Talvez não devesse, mas não nego: ao ver aquela cena, sorri de satisfação.

Do preconceito

ACUSAR alguém de ser preconceituoso confere ao acusador, no mesmo instante em que acusa, a condição de juiz da moral alheia. Ao acusar isto é preconceito!, o acusador autoriza-se no mesmo instante a praticar o seu próprio preconceito contra o acusado, enquanto fica isento de receber a mesma acusação de volta.

Quando aponta preconceitos alheios, o acusador estabelece instantaneamente uma hierarquia moral na qual ele está acima e o outro, submetido a seu julgamento, está abaixo. Tal hierarquia moral dá ao acusador uma primazia desde a qual ninguém poderá julgá-lo: afinal de contas, réus julgarem juízes como forma de retaliação ao julgamento que recebem não tem nenhum cabimento.

Ao acusar, o acusador entende por preconceito aquilo que seu senso comum, sua “lei” moral particular determina. Esta “lei” do senso comum — obscura e amorfa, definida por valores verbais e não-verbais recebidos desde fora e internalizado no próprio acusador — variará de acordo com o humor, o sentimento ou a conveniência que ele carregue em si: ao ser acusado, o “réu” tachado de preconceituoso é julgado num tribunal de exceção — o tribunal do discurso moralizante do acusador de preconceitos.

Se existem preconceitos e preconceituosos — e de fato os há, sem dúvida — ninguém deveria possuir a prerrogativa de apontá-los, se fosse honesto com sua própria consciência; pois no mesmo ato de acusar um preconceito alheio, o acusador pratica ele mesmo preconceito contra o acusado. Logo, preconceituoso será antes de tudo aquele que denuncia o preconceito alheio, necessariamente.

Até aqui, refiro-me à esfera particular da sociedade, na qual vigem códigos não-escritos de adequação social, convenções transmitidas de pessoa a pessoa. Entretanto, se transpormos estas regras sociais para as esferas legislativa e jurídica, todo um corpo de leis e códigos podem ser estabelecidos a fim de se definir o que seja ou não preconceito, tipificando crimes e determinando punições. E é precisamente o que se pretende hoje em dia nos parlamentos mundo afora, não por iniciativa da sociedade civil, de pessoas comuns, mas por pressão de grupos e ativistas representantes de ninguém exceto de si próprios, e das entidades que representam.

Mas eis que surge um problema: se preconceito é no fundo uma opinião, cometerá este preconceituoso um crime de opinião? Opiniões — sem comprovado prejuízo moral de outrem, o que caraterizaria prejuízo efetivo e verificável já preconizado em lei — poderiam ser considerados crimes? Meras opiniões, crimes? E quanto à liberdade de expressão, um dos pilares da democracia?

O enquadramento de determinadas opiniões ou posturas na categoria de preconceito torna o hipotético ente definidor de preconceitos — digamos assim, seja pessoa ou instituição, pouco importa — um ser divino e incontestável, quando arroga ser o definidor máximo de certos e errados dos cidadãos. Mas como tal ente definidor de preconceitos se faria obedecer e respeitar?

Para tanto seria necessário implantar todo um novo imperativo categórico na mentalidade coletiva, um código moral imperceptível arraigado na alma. E como implantar tal imperativo categórico? Quanto tempo leva tal operação e em quê implica sua efetividade? Lobotomia? Uma nova religião civilizatória? Mas como produzir isto? Para fazer sua lei moral ser totalmente internalizada, será necessário que o ente definidor de preconceitos não admita divergências de nenhuma ordem durante a implantação, sob as penas de perder a eficácia, esvaziar a autoridade e assim não conseguir mais submeter ninguém àquela “verdade” que detém e pretende tornar funcional.

Levando em conta que para um imperativo categórico social tornar-se senso comum demora séculos, a tarefa de implementação urgente deverá ser necessariamente artificial. Tal imperativo categórico não existirá se não for imposto verticalmente, psicologicamente, na formação dos cidadãos desde a tenra infância; contudo, não imagino maior violência moral. Se isto não for a própria definição de tirania e totalitarismo, não sei mais o que é.

Entretanto, esta implementação induzida e forçada de códigos morais artificiais — que não penetram o senso comum como imperativo categórico, mas aparecem desde fora por entes não identificados, algo como um chefe invisível a quem todos devem obedecer — nos é familiar. Sim, tudo isto acontece neste exato instante, em que supostamente vivemos numa democracia e acreditamos ser cidadãos livres. Novos imperativos categóricos são criados todos os dias a fim de aprisionar-nos a mente, tolher nossos comportamentos: somos uma pessoa dentro das nossas mentes e em nossos círculos mais íntimos, talvez nem mesmo neles; porém, na convivência social, somos pressionados por todo um código moral externo, “alienígena” que não habita nosso coração. Somos vigiados por um enorme olho invisível, e o policiamento íntimo ou público aos supostos preconceitos talvez seja a maior evidência desta vigilância, cujos controladores desconhecemos completamente.

O rebanho
cultural

NÃO EXISTE moda que brote espontaneamente: toda e qualquer moda é sempre criada por alguém, visando um determinado fim. Este, aliás, é o objetivo de todo modismo: abolir ou transformar certos valores vigentes e substitui-los por outros, conforme os interesses daqueles que conduzem — ou pretendem conduzir — a sociedade. Ao mencionar moda ou modismo, não refiro-me apenas à vestimenta, mas a toda cultura de massas, algo abrangente, que vai da estética corporal ao estilo arquitetônico das cidades, da música popular aos valores morais em geral.

Ao seguir modismos, as pessoas não o fazem apenas por gosto ou prazer, mas antes de tudo por uma espécie de disciplina imitativa do subconsciente: miméticas, elas “forçam” seu hábito aos ditames da moda que lhes chega ao conhecimento, e esta adoção lhes parece boa e adequada; afinal, “todos fazem o mesmo”.

O ser humano, parece, tem necessidade de inserção, de sentir-se encaixado no presente, daí porque faz-lhe sentido embarcar na última onda: essa atitude confere pertencimento, segurança mental e bem-estar aparente. Nada mais óbvio, é confortável nadar a favor da correnteza.

Tal se dá com o rebanho cultural: jovens na maioria, adolescentes ou adultos recentes, gente que busca marcar posição e afirmar-se na vida. Em geral, jovens acreditam que é preciso estar adaptado aos costumes em voga e eles se agarram a esta idéia sem nada filtrar, voluntariamente. Certos adultos também agem assim, em especial adultescentes, um recente fenômeno urbano.

Cientes da inclinação juvenil por “beber novidades”, a indústria cultural forja seus produtos culturais estrategicamente, de modo a introduzir na mentalidade coletiva toda uma série de novos costumes e modos de ser, a fim de induzir novos comportamentos, valores, pensamentos e opiniões na sociedade. Todo um imaginário substituto é moldado aos poucos nas novas gerações, por vezes rompendo o que não deveria romper e acarretando consequências desastrosas ao próprio indivíduo e à sociedade. Eis o trabalho do progressismo, ideologia a qual oculta, por trás da nomenclatura presunçosa, o projeto maléfico que tenciona realizar.

Todavia, tudo é recoberto por camadas de positividade e bons sentimentos, por estéticas atraentes, por high technology; e quem porventura se opõe a este novíssimo e estranho padrão de bom, belo e justo da modernidade, será considerado um sujeito louco, intolerante, reacionário, mau, entre outros adjetivos. Afinal, se o progressismo monopoliza para si o bem, qualquer vento contrário representará necessariamente o atraso e o obscurantismo, não é mesmo?

A palavra de ordem dos “inventores de modismos” é romper padrões. Por outro lado, eles não discutem a sério suas propostas, não permitem quaisquer exames à luz da realidade, nem aceitam comparar os efeitos dos novos comportamentos que impõem aos dos hábitos tradicionais, jamais; a tática é criar rupturas, divulgá-las maciçamente na mídia que lhes é subserviente e, assim, raptar as vontades, corações e mentes suscetíveis, a fim de plantar e espalhar as sementes do projeto. O resto corre por si.

Dá-se então o encontro da fome com a vontade de comer: as (nocivas) novidades criadas chegam ao rebanho cultural, que por sua vez está ávido por consumir novidades. Eis o modus operandi da engenharia social aplicado à cultura. A eficácia da operação se dá exatamente pela predisposição juvenil — incauta, cheia de si, resistente a admoestações — pronta a tratar acriticamente toda novidade como coisa boa e desejável.

A moldagem artificial da sociedade — fenômeno surgido no século XX, proporcionada pelo estudo da psicologia das massas — sempre teve nos jovens as suas cobaias e, não por acaso, as suas principais vítimas. O natural orgulho juvenil embota a percepção, a impetuosidade rebelde gira as rodas do moinho, e as mudanças projetadas acontecem. É um mecanismo formidável, e quem controlar as engrenagens do processo controlará o imaginário das nações; na menor das hipóteses, lhes farão um belo estrago, coisa de que os vigaristas intelectuais sempre souberam (imagino frankfurtianos dando risinhos entre os dentes neste momento, em meio às labaredas).

Entretanto, e quanto ao rebanho cultural? Ouvirá tais advertências? Pensará algo a respeito? Mudará a postura de algum modo? Infelizmente não, pois rebanhos não mudam por si mesmos. Se existir uma solução possível, há de ser esta: mudar os pastores que conduzem esses rebanhos.

Literatura
é bobagem?

A MAIOR, a melhor e mais importante obra de literatura poderia ser considerada bobagem: qualquer um que vença as duas mil páginas de Guerra e Paz após o ponto final do último parágrafo poderia fazer cara de tédio, fechar o volume e suspirar:

— Quanta bobagem…

Mais: qualquer um conseguiria, sem dificuldade, ler um diálogo de Sócrates e bocejar:

— Quanta encheção de linguiça, quanta besteira…

Declare que algo é bobagem, e ela o será — ao menos para a pessoa em questão.

Se uma grande obra literária, um clássico, fosse considerada bobagem na época da publicação, a obra nem chegaria ao nosso conhecimento. Queimariam-na lá mesmo naquele século e nem sonharíamos que um dia ela existiu.

De que maneira uma obra adquire importância ao longo do tempo? Depende de aprovação instantânea no tempo da publicação? Como se constrói um consenso em torno da obra que a define inequivocamente como clássico?

Difícil responder algo além de vaguezas tipo “são clássicos pois tocam a humanidade de todas as épocas”. Porém, desconfio de duas coisas:

1. Se os chamados clássicos não chegassem ao nosso conhecimento com este mesmo rótulo, fama e recomendação, mas como coisa comum ou algo pior, a maioria encararia assim mesmo aquelas obras: descartáveis, desprezíveis, indignas de atenção.

2. Se obras da literatura comercial fossem propagandeadas como clássicos, certamente como clássicos seriam tratados.

Quem se daria ao trabalho de examinar o valor de um Tolstói, se fosse tachado de romancistazinho pretensioso? E se Dostoiévski fosse considerado um lunático de confissões banais, com aquele psicologismo amador? E se dissessem que o texto de Thomas Mann se perdia num ramerrão enrolatório, “porque não diz logo o que quer dizer?” E se acusassem Goethe de moralista, que aquelas suas maximazinhas bem poderiam aplicar-se a ele mesmo, “quem ele pensa que é?”

“E daí, aonde você quer chegar? Quer dizer que as obras clássicas da Grande Literatura Universal não possuem realmente o valor que lhe dão?” Claro, claro que possuem, quem sou eu para negar uma coisa dessas? No entanto, convenhamos, suas famas (merecidas e indiscutíveis) as precedem quando chegam ao nosso conhecimento; não fosse assim, ninguém lhes daria a menor bola. Este é o ponto.

É perfeitamente possível deduzir que:

a) Ao longo da história, obras que seriam consideradas clássicas se perderam. Seja por guerras ou cataclismos (a biblioteca de Alexandria ilustra bem isso), seja porque seus autores, talvez geniais, foram sumariamente desprezados ou ignorados em seus dias.

b) Obras incontestavelmente clássicas hoje em dia foram massacradas pela crítica de ilustres imbecis, que ditavam o válido e o não válido naquelas dias. Estas obras injustiçadas foram resgatadas tempos depois, por um verdadeiro milagre. Por outro lado, milagres assim não contemplaram a todos que o mereciam e muitos tesouros em potencial se perderam.

Diante disso, esboço um corolário: obras se tornam clássicas não só pelo seu valor intrínseco, mas também considerados pela montanha consensual que se ergue em torno delas.

A nova mania

CHAME de implicância se quiser, mas acabo de detectar uma nova mania: o tom professoral. Muitos parecem dar aula ao falar com os outros, com didatismo e autoridade de especialista. Opiniões, impressões, o bom e velho achismo? Que nada: o negócio agora é ser peremptório. É ensinar. Sintoma disso é o uso disseminado da interjeição “entendeu?” no fim das frases. Ninguém mais pergunta “concorda?”, “não é?”, “o que acha?” Não: querem certificar-se de que você “entendeu”. Sim, professores, entendi.

Sinal dos tempos. Quanto mais desorientado anda o país, mais entendedores surgem do nada, do thin air. Outro dia mesmo, no supermercado (supermercados são excelentes locais de observação comportamental e sociológica), pois bem, estava no corredor de vinhos, escolhendo um exemplar baratinho mas não muito sem-vergonha, quando um cidadão com uma garrafa em mãos sentencia a outro que o acompanhava: “você não tem experiência” — plaf! imagino o golpe da palmatória — “você precisa sentir o sabor na língua: no começo parece gosto disso, no final vira sabor daquilo etc.” Caramba, um sommelier ali ao lado. E o distinto modulava o tom estrategicamente para que outros o ouvissem, ou para o único outro presente — no caso, eu mesmo. Saí antes que ele entrasse no quesito harmonizações.

Outra vez, no metrô (outro lugar excepcional para observar tipos humanos), sento-me ao lado de uma mulher. Fala alto ao celular (incrível, só meu celular não funciona no metrô. A inconveniência deve potencializar o sinal). “…sabe, é que ele não tem visão de negócio! É! Ele não tem visão de negócio. Sabe nada de estoque, de fornecedor, pagar funcionário… não é assim, não! Precisa visão de negócio!” Puxa, ela gosta dessa expressão. Seria uma megaempresária disfarçada? Digo, um tanto encabulado, que apesar de ter cursado administração e marketing, lido Drucker e Kotler, ainda não tive visão de negócio. Vergonha. Devia aprender com a mulher do metrô.

Pensa que acabou? Passava numa calçada desses espigões corporativos todo envidraçados (eu sempre imagino esse troço levantando vôo rumo ao espaço, deixando o solo com toneladas de barro e grama caindo aos blocos) e lá, numa rodinha, um garoto com jeito de estagiário, discorrendo sobre preferência política, presumo, crava: “sou capitalista liberal!” Uau! Estava ao lado de um jovem dono dos meios de produção. Quase volto e peço uma grana pra ele. Decerto não me negaria, pois apesar de capitalista, era liberal.

A última, prometo. Em frente a uma padaria chique, rapaz e moça (ambos muito elegantes) conversam. O rapaz fala à moça que não come pão “porque o carboidrato não é bem metabolizado pelo corpo”. Deus do céu, isso é grave. Em toda minha vida nunca vi maldade num pãozinho quente. Como o rapaz descobriu isso? Vai saber. Pessoalmente, acho uma calúnia ao carboidrato que nem estava ali pra se defender.

Bom, são amostras do “professorismo” atual. “Ah, mas e quanto a você?” — perguntaria um cricri. “Vai dizer que nunca falou nada em tom didático, professoral, também?”

Talvez sim, pode ser. No entanto, que eu perceba, em noventa e nove por cento do tempo fico quietinho da Silva, sabe? (literiariamente não conta, o meio é a mensagem e tal). Por outro lado, se alguém me “ensina” algo, logo concordo, pois é a melhor forma de não prolongar uma conversa chata.

O caso é que não sei lá muuuita coisa, só de algo aqui e ali. E, pasmem, por incrível que pareça nunca ninguém me pergunta nada, ninguém sequer beberica da minha parca sapiência! Claro que estão perdendo (sinta a modéstia), mas fico na minha. Fazer o quê? Enquanto isso, continuo lendo meus livrinhos, escrevendo umas bobagenzinhas por aí. Mas nada de sair dando aula, porque pelo jeito, professor no Brasil é o que não falta.

*Ilustração: Matt Cunningham

A Diversidade
e eu

ESTOU eu no metrô, quando de repente senta (despenca) ao meu lado a Diversidade. Distraído com um livro velhinho à mão, levo um susto, mas logo me recomponho. A Diversidade começa a remexer na bolsa, nervosamente. Abre zíper, fecha zíper, mexe, remexe. E minha concentração vai para o espaço. A leitura estava tão boa… pô, logo ao meu lado?

Não teve jeito: tive de reparar na Diversidade. Disfarçando, evidentemente. Era jovem, franzino (franzina? franzinx?), tinha uma mecha azul no alto da cabeleira e espinhas secadas recentemente, vejo de reflexo. Após os trabalhos na bolsa, retira o smartphone, cruza, descruza e cruza novamente as pernas, balançando molengamente a perna apoiada. Parece agitada.

Bem, e daí? — penso. Volto ao livro. Não quero que a Diversidade perceba algum incômodo da minha parte, se exaspere e exploda. Diversidades são muito irritáveis. Só que a leitura não fluía. Daí, olhando as páginas sem lê-las, pus-me a matutar, tenho essa mania. Recordei-me de algo.

Quando eu era garoto, num bairrinho longe e desconhecido de São Paulo, era bem difícil ver alguma Diversidade. Havia meninas gordinhas, magrinhas, bonitinhas, feinhas. Havia meninos altos, baixos, gordos, magros, todos feios. Havia brancos, rosas, pretos, cafés-com-leite, amarelos, um vermelho. Todos mais ou menos parecidos no geral, e nenhuma Diversidade. Ou melhor, quase. Lembro-me de uma.

Foi na escola, na sétima série. A gente fazia educação física: meninos tinham aula num dia, meninas no outro. E este era nosso dia de aula.

O professor, que vinha para a escola numa Vespa vermelha e parecia o Chuck Norris, apesar de gente boa, não era de muita conversa. Fazia a chamada e mandava a gente correr: dez voltas em torno da quadra, para o aquecimento. Depois, polichinelo e dez flexões. E depois lançava a bola de capotão, formava dois times e organizava uma partida de futebol. E a gente jogava bola.

No meio da molecada havia uma Diversidade. Naquele tempo não a conhecíamos por esse termo, porque essa palavra não se aplicava a pessoas, mas a itens num supermercado ou numa loja. A Diversidade da sala fazia aula com os meninos, com a gente, mas detestava jogar bola. Ia pro gol, que é o lugar natural de quem detesta porém é obrigado a jogar, conforme a lei da molecada. Eu ficava de zagueiro, posição ingrata e oficial dos pernas de pau, de quem marca umas faltas, impede jogadas do adversário, faz uns lançamentos, mas não sabe driblar nem fazer gol. Era meu caso.

Então, num dia daqueles, vi a Diversidade da sala choramingando, enquanto o time atacava lá no lado adversário. Fungava baixinho. O que havia? Parecia uma tortura, sei lá. Não queria ficar na aula, era nítido. Reparei naquilo e me solidarizei intimamente com a Diversidade, embora não tivéssemos papo. Mas entendia um pouco, acho, porque eu também nunca fui muito fã de futebol, nem era nenhum craque. Eu sonhava em ser o Zico, mas sempre era o penúltimo a ser escolhido para o time. A Diversidade ficava por último (“tá bom, vem você, vai…”).

Da minha parte, eu abstraía, me aguentava e jogava. Fazia o que tinha de fazer. Era esse o código dos meninos. Meninos seguem os códigos, fazem o que têm de fazer e se aguentam firmes. Mas para a Diversidade era difícil.

Um dia, no final do bimestre, o professor realizou um campeonato interclasses, misturando meninos e meninas. Os garotos adoraram o evento: meninas de shortinho, saiazinhas drapeadas etc. A Diversidade lá da sala também gostou, mas entrou no time de vôlei das meninas. Elas, que nos olhavam com desprezo como se fôssemos mendigos leprosos, nem ligavam de jogar perto da Diversidade, de shortinhos e tudo. Ao contrário, riam, davam-se muito bem.

Nunca nenhum professor nos mandou respeitar a Diversidade. Também, nem precisava: ela tinha lá a turminha dela, nós a nossa, e a vida seguia. Faz tempo que deixei a escola, mas ouço dizer que professores hoje passam oitenta por cento do tempo em sala mandando respeitar a Diversidade e vinte por cento ensinando (mal) o bê-a-bá. Acho que é verdade, porque a garotada hoje em dia sabe bem o que é Diversidade, mas não imagina o que seja um advérbio.

Enfim, eram outros tempos. Além daquela, na turma da escola, só se via Diversidade na televisão: no Bolinha, no Silvio Santos, no Viva o Gordo, no Chacrinha. Quando as assistia na TV, eu criança, pensava em quê? Em nada. Achava estranho, às vezes um pouco engraçado, e só.

Chega de matutar, afinal. Minha estação se aproxima. Volto a atenção para a Diversidade aqui ao lado. Já perdi a concentração da leitura mesmo, então deixa pra lá.

Caramba, a Diversidade aqui se agita miudinho, meio serpenteando no próprio eixo. Me irrita um pouco. Digita qualquer coisa no celular, põe a mão à boca e dá um risinho mudo. Deve estar boa a conversa. Como deve viver? Será feliz?

Imagino-me puxando assunto com a Diversidade. Porém nem tento, sou ruim de papo. E outra, vai que eu fale alguma coisa que ofenda, vai que a Diversidade arme um escândalo aqui e eu vá parar na home do UOL? Deus me livre de confusão.

Se fosse antigamente, na escola, no tempo daquela outra Diversidade que não jogava bola, talvez pudesse falar alguma coisa, qualquer coisa. Era mais fácil. Mas com essas Diversidades de hoje em dia, melhor falar nada. Só calar, fingir normalidade, não olhar muito… anular-se, em suma. Não é esse o código vigente? Meninos seguem os códigos, fazem o que têm de fazer e se aguentam firmes.

*Ilustração: Matt Cunningham