A lojinha velha e decadente:
Produtos sujos pendem das prateleiras.
A loja escura, quase sem freguês.
A cidade grita lá fora, fere o silêncio.
O tempo passa lá fora. O carro passa lá fora.
A ambulância canta, estridente, pede abertura:
De tudo acontece na via suja.
A lojinha parada, sempre aqui.
Sempre invisível. Sempre aberta.
Não sente o tempo, a ruga na cara dos outrora jovens
E o agito da geração sem nenhuma chance.
A cidade que não melhora,
Toda a gente que não muda:
O grosseiro, o crente, o mendigo,
A moça na bicicleta, o louco que grita
Com o demônio que só ele vê.
O homem sanduíche, envolto em sua placa.
A mulher distribui papéis cujo destino é o chão:
Lógica previsível, fato inevitável.
Esta é a cidade, assim é a avenida
E aqui, a lojinha. Aqui jaz a lojinha.
A prateleira triste, tão empoeirada!
De quê o senhor vive, se quase nada vende?
Mas eu entrei aqui. Avisto um item raro:
É meu! Não resisto: comprei.
Minha vinda à lojinha valeu a pena, enfim.