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O sonho de toda alma inteligente é encontrar outras almas inteligentes. Escrevo alma, e uso inteligente para adjetivá-la; poderia simplesmente dizer inteligente, o substantivo; mas a distinção é intencional e necessária.
Nem todo inteligente, convencionalmente falando, possui uma alma inteligente. Existem indivíduos notavelmente cultos que no entanto são precários em matéria de sensibilidade, de discernimento. Também não me refiro àquela tal inteligência emocional tão propalada nos anos 1990.
Como defino a alma inteligente: aquela aberta à percepção sutil, que pode sim se valer da cultura, não na epiderme ou protocolarmente, mas na substância, para assim enxergar o mundo que a rodeia como se tudo estivesse translúcido (embora não totalmente transparente, que seria a invisibilidade pura e simples). Almas inteligentes percebem o que há por debaixo das coisas, captam o mistério, observam um entre nas diferentes proposições, um between, sempre, mesmo nas questões mais antagônicas.
Tais almas podem incorrer em erros, claro, pois são humanas. Tem um fraco por conjecturar demais e viciar-se em si mesmas, nos próprios pensamentos. Correm o risco do solipsismo. Serão almas saudáveis somente se não confiarem demais nas formulações imediatas e se souberem guardar suas percepções pré-verbais para o futuro. Soa metafísico, mas nem tanto.
O caso é que almas inteligentes sentem algo a mais no ar, detectam causas e antecipam consequências; isto faz com que sejam previsíveis na rotina, embora muitas vezes surpreendentes nas opiniões. Frequentemente, mudam de parecer de modo inesperado, quando a massa ainda mal assimilou um novo senso comum. Costumam entrar primeiro e sair antes de todos, ou nem mesmo entram: enxergam quando o bem lentamente torna-se mal, lêem os sinais ainda em germe. Não agem como ovelhas ingênuas rumo ao matadouro, mas observam com serena perspicácia o movimento da realidade, e se resguardam.
Almas inteligentes não são compreendidas pelo vulgo. Almas inteligentes buscam seus pares, seus iguais, mas raramente os encontram porque elas não se dão às amizades. Desconfiam demais, reservam-se demais. A presença constante dos outros as entedia ou as atemoriza de alguma maneira, como se o contato com a parte alheia lhes retirasse algo de sua seiva, e assim abandonam ou desprezam, sem motivo, aquilo que justamente as poderia fortalecer: as amizades. Talvez esteja aqui sua maior contradição.
Almas inteligentes não são compreendidas pelo vulgo. Almas inteligentes buscam seus pares, seus iguais, mas raramente os encontram porque elas não se dão às amizades.
Enquanto isso, lá fora grassa uma velha maioria: as alminhas medíocres, a massa, sempre a satisfazer-se cada vez mais e com mais motivos para fazê-lo; saboreiam o mundo como uma deliciosa sobremesa. Nunca não lhes falta motivo para permanecer exatamente no estado em que estão, tampouco lhes falta companhia, para o bem ou para o mal. Medíocres são maioria, e o são por um único motivo: é facílimo ser medíocre.
Almas inteligentes, por outro lado, não importa o tamanho de suas angústias ou o peso de suas dificuldades, recusam terminantemente a mediocridade. São auto-disciplinadas e carregam algo da Eternidade em si. Elas possuem asas invisíveis que, por alguma razão misteriosa, não lhes permitem levantar vôo. Não nesta vida, ao menos.
Texto 100% Criação Humana / 0% Inteligência Artificial
(Selo criado por Beth Spencer)