desista, ele disse:
desista de poemas.
crédulo e dócil
à autoridade da mera voz grave
e unanimemente respeitada
acreditei
e parei.
. . .
esterilidade e silêncio.
. . .
tudo graças a ele,
autoridade da mera voz grave
cujo nome figurava no topo da hierarquia.
obedeci: não sei quê me deu.
fiz-me nulo.
calei.
contudo, não recebi agradecimento de nenhuma espécie
pela deferência à ordem estabelecida.
depois, eu vi.
não sei como, vi:
entendi que parar não devia:
retomei.
a mera voz grave, já sem autoridade, posto que ignorada
é despreocupadamente desobedecida,
a despeito do perigo iminente nunca concretizado,
e chutada prum canto qualquer, a hierarquia.
faço e farei poemas.
cala a voz má: não sei quê lhe deu.
já quanto a mim
constante e suave
renasce-me a força.