Meus risos andam tão raros…
Quem dera ter a alegria fútil das ruas: não posso.
Não disparo chavões como se fosse inteligência.
Vida social é cumprir convenções:
o agir compulsório, facilitar convivências.
É o preço por preservar minha paz:
conviver é fazer deferências.
Ceder. Ser cortês a cidadãos
quase sempre indesejáveis.
Tolerância, exerço aos bocados:
baldes dela são derramados.
Estoques imensos de compreensão
a tolos que espocam, em borbotão…
Sou inferior a quem tolero.
Conformo-me:
eles receberão a virtude reclamada,
eles, privilegiados
eles, semi-reis.
Haverá algo mais doce
de que obter compreensão
e nunca ter de compreender?
Eis aí a conveniência dos estúpidos.
É uma época propícia aos idiotas
— azar meu ousar não sê-lo.
Receba eu, pois, todas as cobranças,
e pague-as em dia, uma após outra.
De volta? Ganhe desprezo, indiferença,
e de bônus, covardia.
Não é mesmo uma época propícia aos idiotas?
E eu ousei não sê-lo.
Quanto a eles…
Nunca foram tão felizes.